6.4.06

Educação e intelligentsia

Não gosto da subserviência. Acho que por vezes devemos quebrar as amarras. E já que denominada e auto-proclamada intelligentsia portuguesa parece ter descoberto os benefícios da avaliação das pessoas e serviços – como se o simples facto de haver uma avaliação fosse condição per se para sua melhoria –, uma vez mais coloco-me na posição de advogado do Diabo e deixo algumas questões relativas à avaliação dos docentes.

Estamos de acordo que o desempenho dos professores, como de qualquer outra classe, deve ser avaliado, pois do processo poderá emergir alguma da promiscuidade que mina a educação em Portugal. Mas sejamos rigorosos. Antes de mais, afirmar que não existe avaliação dos docentes é demonstrativo de uma ignorância grosseira. Provavelmente a classe docente é a mais avaliada de todo o serviço público: antes de mais pelos alunos, que quotidianamente avaliam o desempenho dos seus professores. Depois, são avaliados pelos seus colegas de escola, de Grupo, de Disciplina. Posteriormente, são ainda avaliados pelas famílias.

Mas reconheço: não faz mal nenhum um outro sistema de avaliação de desempenho. Todavia, a intervenção deveria ter início na formação. Porque sejamos claros: a formação que se dá hoje nas universidades é uma treta e grande parte dos professores recém-licenciados vem muito mal-preparada (como acontece com a maioria dos cursos superiores). O que se deverá então fazer? Punir a falta de preparação - que tem a sua origem nos programas curriculares, nos professores do ensino superior, no Ministério que define as regras – ou mudar os planos de formação, ser mais exigente, promover, efectivamente o trabalho intelectual?
Pois, o plano de intervenção do Governo é avaliar os docentes, esquecendo tudo o resto.

O problema da má formação científica e pedagógica dos professores é antigo, mas ganhou especial relevância com a inefável Ana Benavente (a tal Secretária de Estado do Eng. Guterres) que, com o desejo desmesurado de catapultar Portugal para índices de alfabetização mais europeus, deu orientações claras para se diminuir o grau de exigência. Exemplos: hoje é muito mais difícil justificar um 7 do que um 17. Chumbar um aluno, então, é um tormento. E, passados 8 anos, esta política começou a dar frutos. Quem forma hoje, são os mesmos que foram formados neste nível de facilitismo. E o mais engraçado disto tudo, é que os avaliadores serão os formadores. Ou seja, os tais que formam “péssimos” profissionais, serão os mesmos que avaliarão os seus desempenhos.
E de ridículo em ridículo vai caminhando este governo.

PS – A Sra. Ministra anunciou que as Cartas Educativas têm que estar prontas até ao final de Abril, já com os dados referentes a 2005/2006. Mas esqueceu-se de dar ordens às Direcções Regionais para disponibilizarem esses dados às Autarquias, que têm a missão de elaborar as respectivas Cartas.

PS1 – Não podia deixar passar o absurdo de ver tantas televisões a acompanharem o jogging matinal do nosso Primeiro-Ministro em Angola. Depois venham cá gozar com o provinciano jornalista madeirense que acompanha as férias do Presidente do Governo Regional.

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