1.10.07

Sobre o assunto em apreço

Ponto prévio: não vi a entrevista de Santana Lopes, nem vi a sua saída do estúdio. Mas apetece-me dizer o seguinte:

1- Uma entrevista tem, pelo menos, dois intervenientes: um entrevistado e um entrevistador. Se o convidado responde de forma sonolenta ou atabalhoada não é por demais frisar que cabe ao jornalista, enquanto agente activo, preparar-se para evitar que tal aconteça. O bom jornalista é aquele que encontra falhas e incongruências no discurso e é aquele que é capaz de fazer as perguntas certas no momento certo, tentando evitar que o entrevistado fuja às questões. Isso exige investigação, preparação, paciência.

2- Os políticos são maus em Portugal? Talvez sejam na sua maioria. Sócrates chegou a Primeiro-Ministro e Santana já lá esteve. Se calhar, exemplos elucidativos do estado a que isto chegou. Mas como em todo o lado, e em todas as profissões e actividades, há bons e maus políticos, há bons e maus jornalistas. Os políticos apenas reflectem a face do verdadeiro país que somos: uma enorme mediocridade que vive há 200 anos dentro do mesmo logro. Os jornalistas, como todas as outras classes profissionais, são tão culpados como os políticos. No fundo, fazem parte da mesmíssima sociedade. Querer ilibar-se desta evidência só pode ser uma questão de má-fé ou de suprema arrogância.

3- Quanto aos novos protagonistas que emergem na sociedade civil, tenho sérias dúvidas se a troca compensa. Abrir telejornais com socos na cara de futebolistas, com despedimentos milionários, com a mãe que matou a filha à pancada, com a criança que muda de família constantemente ou ainda com o desaparecimento de uma menina inglesa (meses inteiros nisto), revela bem o estado actual e as prioridades e objectivos do jornalismo português. Já sei que me vão dizer que é isso que o povo quer ver e ouvir. Gostos infelizmente não se discutem. Talvez seja por isso que há meses que não vejo um telejornal e, para ser sincero, nem dei pela diferença. E, devido à idade, já prefiro não entrar em grandes cavalgadas.

4- Mourinho já tinha avisado que não faria nenhum comentário à sua chegada. Este período de nojo foi imposto pelo próprio por respeito aos treinadores que se sentiam ameaçados pela sua disponibilidade e para estancar alguma especulação que, nestas coisas, é sempre exagerada.

5- Considero por isso que Santana fez bem e que deu uma bofetada num certo tipo de jornalismo que pensa que vale tudo. Para alguns, ainda não vale.

6- Para o fim, apenas uma pergunta: se o convidado se chamasse António Costa será que tinham interrompido a entrevista?