27.4.08

Diferença entre ser e parecer democrata

A propósito das eleições para a liderança do PSD, temos ouvido muitas cabeças bem-pensantes (?) e politicamente correctas vaticinarem desastres inomináveis, apenas porque a eleição, em vez de ser feita através de meia dúzia de barões e de negociatas políticas muito pouco claras em congresso, será feita através de eleições directas, em que o líder será eleito por sufrágio universal.
Aliás, isto não é nada de novo. Aconteceu com o PS e já tinha acontecido nas últimas eleições do PSD, as primeiras dos social-democratas em que foi aplicado o sistema das designadas eleições directas.
Ele é o perigo do populismo, da falta de capacidade de análise política das bases, da emotividade, eu sei lá! Tudo serve para atacar o sistema que - pasme-se! - tem como único defeito devolver o poder de eleição a todos os militantes, em igualdade de circunstâncias e com igual peso.
Isto demonstra bem o que pensa a maioria dos políticos, dos jornalistas, dos politólogos, dos comentadores e dos analistas acerca da democracia. O que pensam sobre a igualdade de direitos de todos os membros de um grupo.
Querem e defendem o voto de qualidade, em que meia dúzia define e escolhe o melhor para a maioria, uma vez que o povo é manifestamente incapaz de decidir correctamente por si. Salazar e todos os ditadores do mundo pensam(va) exactamente assim. Para quê votarem todos, se a maior parte não sabe o que é melhor para si?! Para quê, sequer, eleições, pergunto eu, uma vez que poderiam escolher entre eles todos os líderes?!
Esta é a lógica destes senhores que, entretanto, auto-proclamam-se democratas dos quatro costados e é vê-los nas televisões a partilharem os seus doutos pareceres sobre aquilo que é melhor ou pior para todos nós, numa ilegítima e completamente ignóbil tentativa de condicionar as opções de cada um.
É exactamente por isso que de cada vez que oiço todos estes sábios convenço-me que o melhor que tenho a fazer é seguir pelo caminho oposto ao que me sugerem.
Que vão ser paternalistas com as suas santas famílias, porque eu, enquanto membro do povinho, ainda prefiro ir agindo pela minha cabeça. Mas é sintomático do que pensam as ditas elites. E da verdadeira qualidade da nossa democracia, do seu rosto, quando desmaquilhado do politicamente correcto.

1 comentário:

amsf disse...

Porque, ao contrário do que é afirmado neste post, não tenho visto ou ouvido qualquer polémica relacionada com este método de eleição (directas), suponho que esta é uma forma de o Sancho Gomes contribuir para a tal revolta das bases preconizada pelo sr. AJJ. Este post pretende criar a ideia de que haverá quem deseje retirar o poder de eleger às bases pelo que estas devem se revoltar contra as lideranças.
Essa polémica teve alguma expressão aquando das directas entres Marques Mendes e Meneses pois houve trocas de acusações por haver caciques que pagariam as quotas de militantes e que os instruiriam a votar em determinado candidato. Pelo que se soube essa acusação teria fundamento. Para evitar esse caciquismo tão flagrante as quotas deviam ser abolidas e o direito de voto seria facultado a quem tivesse um mínimo de participações em eventos partidários.