Quem me conhece sabe que não grande apreciador do Desconstrutivismo, de Levinas, Derrida e companhia. Saberão, igualmente, que aprecio ainda menos os seus representantes portugueses - e muito especialmente uma certa "adoradora da diferença". Não sou, contudo, autista e reconheço a legitimidade da luta da "linguagem da diferença", que pretende a inauguração de uma nova atitude ética, que coloca o outro como centro da prática ética (do grego ethos, como "morada" do homem, porquanto é aquilo que verdadeiramente o define).
Ao assistir a uma interessante conferência de Janela Afonso, que decorreu hoje em Esposende, no Encontro Nacional da Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadoras, dei comigo a pensar em como esta nova atitude pode concorrer para um modelo mais ético e mais eficaz da globalização.
Como?
Dizem os críticos da globalização que esta é uma invenção do "mercado" com vista à sua amplificação. E a verdade é que o paradigma actual dominante não contribui para a qualidade de vida dos cidadãos, sendo antes um elemento hegemónico que desenraíza e aliena uma consciência ética colectiva (que promova e defenda os valores locais). Este é o mundo que nos foi legado pela pós-modernidade, onde a diferença é sempre estabelecida pelo poder (num mundo de "brancos", os "pretos" são diferentes; num mundo de homens, as mulheres são diferentes, etc.) Ou seja, a diferença é definida pela Identidade do Poder e é este que classifica a alteridade como difente. A diferença aparece não por si, mas como legado da identidade.
A proposta alternativa é a emergência de modelos de globalizações situados e sustentados localmente. E aqui entra um novo paradigma da diferença que, curiosamente e de forma aparentemente antagónica e/ou paradoxal, contribui para fixar a identidade. Num mundo global (que é e que se deseja), combate-se a hegemonia afirmando-nos pela diferença. Ora, não apenas "Je suis un autre", como de forma feliz enunciou Rimbaud, mas eu mesmo quero afirmar-me como outro. Eu quero ser diferente e quero que a minha identidade seja definida por essa diferença, relativamente à hegemonia estabelecida pelo paradigma de globalização que vigora.
Ora, passe a surpresa que possa causar esta minha aparente alteração de horizonte, a verdade é que me parece que a "utopia" do progresso - visto como aumento da qualidade de vida para todos os habitantes deste planeta global -, a criação de "projectos emancipatórios colectivos" - conforme bem defendeu Almerindo Janela Afonso -, apenas é possível através desta nova atitude que resiste à globalização hegemónica. A diferença somos nós e afirmamo-nos por ela. E assim contribuiremos localmente, para um mundo global mais "humano", instaurando então, talvez, a "mundialização" dos valores, porque sustentado na diferença.
3 comentários:
Não perdes a oportunidade para a alfinetada. (suspiro longo)
pronto, pronto... há, pelo menos duas "adoradoras da diferença" com as quais simpatizo muito. e não estou sob ameaça! :-)
quanto à alfinetada, para mim já é um caso de politicamente correcto.
contudo woab, estava à espera de outro tipo de réplica da tua parte. assim mais para apontamentos das minhas falhas conceptuais, nomeadamente ao nível da linguagem ontológica que eu deliberadamente assumi e que é antagónica à linguagem da diferença, como tu bem (melhor do que eu) sabes.
fico a aguardar...
Sancho Gomes
Sancho:
Weekend duro, com apenas alguns neurónios a garantir serviços mínimos. That's why. :)
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