16.10.09

Câncio e o DN

Desde as eleições legislativas que o PS tem tentado fazer um ajuste de contas com o Público e com o seu director. E para quem está atento ao fenómeno noticioso, é óbvio que o Diário de Notícias tem sido o paladino desta vendetta.
O último episódio é o artigo de opinião de Fernanda Câncio, publicado hoje naquele matutino, onde a mais-que-tudo de Sócrates, ainda sobre o caso das escutas, aparece a disparar para todo o lado. Para todo o lado, alto lá! Apenas para aqueles malvados que tentaram tramar o bonzinho do Sócrates.
Ora, não me choca que o PS esteja a reclamar a cabeça de José Manuel Fernandes: era previsível, expectável e, convenhamos, o director do Público pôs-se a jeito. Também não me choca que estejam a tentar descredibilizar o jornal. A tentativa sistemática de descredibilizar aqueles que julgam ser seus opositores tem sido uma imagem de marca dos governos de Sócrates e desta gente que por ora domina o PS. Continua a ser grave, mas não é estranho.
O que me choca é que um jornal como o Diário de Notícias se preste a este papel. Na tentativa de arrasar com um órgão de comunicação social concorrente, o Diário de Notícias mostra o que vale e ao que vem. Demonstra que palavras como ética e deontologia não fazem parte do livro de estilo do jornal e foram banidas do léxico dos seus profissionais, a começar pelo seu director (será Ferreira Fernandes a única e honrosa excepção?).
Só assim se pode compreender como é que o Diário de Notícias continua a dar visibilidade a alguém como Fernanda Câncio, que faz uso da tribuna do DN para se auto-promover, para falar apenas de si própria e se auto-elogiar e para, abjectamente, fazer a defesa acrítica de todas as tontices de Sócrates, ou a apologia de todas as iniciativas políticas do PS. A senhora não é isenta, não é rigorosa, não é imparcial. A senhora mais não é do que um veículo da propaganda socialista, a lança do PS cravada na comunicação social.
Estaria tudo bem, não fosse eu ter achado, em alguma fase da minha vida que o DN até era um bom jornal. E enoja-me que esteja mergulhado nesta imundície.

2 comentários:

il _messaggero disse...

Sancho,


A suposta imparcialidade da Comunicação Social é um daqueles mitos que todos sabemos que nunca vai acontecer.
Nem vou entrar pelo facto de ser difícil a um jornalista - como ser humano que é, supostamente não usar os seus próprios filtros [leia-se ideais, vivências, experiências, etc] para transmitir uma notícia - algo que creio ser imensamente difícil de respeitar.

Falo obviamente pela concentração de meios e entrada de grandes grupos económicos na comunicação social. Estes vieram alterar as regras do jogo, cultivando uma óbvia "hidden agenda".
Aliás, pegando no que escreves, creio que mais vergonhoso foi a autêntica perseguição movida pelo Público ao anterior governo, algo que claramente nos remete para a OPA falhada pela Sonae - dona do Público.

E digo isto sendo leitor do Público (que tem perpetuado a heresia de ter optado nos últimos tempos pelo refrescante e novato I) há já alguns anos e confessando que pessoalmente nunca gostei da linha do DN - devido ao efeito Luís Delgado/Lima no início da década, seja pela excessiva "tablonização" que o jornal sofreu - por vezes parece o Correio da Manhã, do qual se salva Ferreira Fernandes conforme referiste.

Provavelmente não levarás em linha de conta estas palavras, mas confesso que sinto bem mais nojo quando lia editoriais (não artigos de opinião, falo em editoriais sendo que há diferença) claramente politizados de JMF.

No entanto, também devo referir que isso não desculpabiliza a outra parte.

Sancho Gomes disse...

Il Messagero,
Admito, sem pruridos, que o Publico não perdoou qualquer deslize ao anterior governo. Aliás, como já o tinha feito com Durão Barroso ou mesmo com Santana.
Aliás, também há já alguns anos que tenho vindo a deixar de ser leitor do Público (não o compro com a assiduidade de outrora). Dou, também, de barato que os editoriais de JMF são politizados. Mas, como muito bem dizes, não é isso que justifica o comportamento indecente do DN.
E se é para falarmos de editoriais politizados, ou uma submissão absoluta a algum partido, então aí o DN bate aos pontos qualquer jornal português. E não apenas editoriais ou artigos de opinião: basta vermos a “construção” das notícias e a parcialidade e falta de isenção com que os factos são tratados.

Cumprimentos!