22.2.10

Amor!

Oiço a voz feminina de Cibele, conhecida de há muito e companheira das horas mais felizes - meu santuário! -, absolutamente aterrada.
O desespero é a nota dominante no som gutural que assome à garganta. A dor que ela sente cavalga as ondas do Atlântico, até me encontrar. Sinto que alguma coisa terrível a mortifica, à medida que o eco do seu grito retumba pela planície alentejana, que por ora me acolhe.
Tenho certeza de que a torturam, que a fazem sofrer. As veias que a recortam rebentam, numa explosão negra de sangue.
A Besta rasga-lhe a carne com golpes profundos, insensível ao seu sofrimento. As estocadas seguem-se imparáveis: uma, e mais uma, atrás de outra… Descomunais postas de carne dispersam-se no ar. Não há meio de acalmar a ferocidade do verdugo que a suplicia. Ele não acalma.
E ela, desesperada, grita!
Átis encontra-a assim prostrada. Está coberta por uma pasta negra, feita de areia, pedras e sangue. Apenas se entrevê a alvura da carne do seu rosto, nos pequenos sulcos que as suas lágrimas cavam.
Num relance, acordo angustiado, com a certeza de que, infelizmente, tudo isto é mais do que um pesadelo!

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