Conheço, de há muito, a animosidade que a minha amiga WOAB nutre pela Igreja Católica (aliás, apesar de pregar agnosticismo, estou em crer que nisto das religiões a WOAB é uma jacobina radical, subscrevendo a doutrina marxista de que a religião é o ópio do povo).
Contudo, não deixa de me impressionar a forma acirrada – irracional, mesmo, em minha opinião -, com que se atira à Igreja, sempre que lhe cheira a atitudes menos dignas por parte do clero (verdadeiras ou não), ou quando em causa está o conservadorismo de valores da Igreja e a defesa da Tradição, em contraposição à ligeireza que caracteriza esta pós-modernidade do individualismo hedonista.
WOAB, como os seus leitores sabem (e eu sou um grande admirador) é um alter-ego de uma mulher inteligente, culta, erudita, perspicaz, com humor refinado e uma atitude mordaz, no mínimo, apaixonante.
Mesmo quando em desacordo (oh, e acontece tantas vezes – teremos estado, algum dia, em acordo?), reconheço e invejo-lhe a racionalidade dos argumentos, a profundidade do pensamento, a intransigência na defesa das suas causas. Por isso, frequentemente, apelido-a de radical. Porque ela vai à raiz e não se limita a ficar pela rama. Outras vezes, quando a atitude é meramente provocatória (e o quanto ela gosta de ser provocadora), não deixa de nos fazer sorrir pela mordacidade e fino humor. Contudo, quando se trata da Igreja, não encontro estas características na sua argumentação, mais não sendo (pelo menos, parece-me) do que um arrazoado de palavras.
Vem isto a propósito deste texto. Sabe bem a WOAB que, neste caso, concordo que a atitude da Diocese é, no mínimo, questionável (a até aceito adjectivos mais assertivos). Contudo, partir dessa realidade circunstancial, limitada e localizada para sustentar que a Igreja é uma “instituição que se preocupa muito mais em contabilizar os talentos em ouro” é, no mínimo, pouco razoável. Porque julga o todo pela (infinitamente ínfima) parte e atribui, injustamente, aquelas características às centenas de milhar de missionários, membros do clero e leigos que, por esse mundo fora, se entregam à prática que Jesus pregou. É um "soundbit" que soa bem aos ouvidos daqueles que querem ver a religiosidade fora da vivência humana, mas não diz nada.
Também apelida a Igreja de instituição “apodrecida”. Não sei se por achar que esta instituição é dominada por pedófilos e criminosos, onde a mesquinhez, a ganância, a cobiça são os valores predominantes, ou se devido à sua prática conservadora. Quero crer que, apesar da revolta, reconhece que a sua afirmação (anterior) não é rigorosa nem está sustentada racionalmente. Por isso, acredito que aquela sua crítica tenha apenas a ver com o que ela considera ser o excesso de conservadorismo e a incapacidade da Igreja para aderir aos valores pós-modernos.
Contudo, se não estivesse tão ofuscada pelo ressentimento, seria capaz de reconhecer que não se pode esperar que as religiões sejam voláteis e que os valores pregados sejam pronto-a-consumir.
Pensará a minha amiga WOAB que o Mundo seria melhor sem a Igreja?
Num mundo em que o relativismo dos valores assume contornos absolutistas, não serão louváveis as instituições que recusam o facilitismo e assumem uma defesa coerente, também ela intransigente, de uma ética de responsabilidade?
Fazer apologia de valores como a Vida, o Amor, a Compaixão, é uma prática que a Igreja passou a outras instituições (olhem, até à República, que bebeu muitos princípios humanista herdados dos Evangelhos), mas poucos sãos os que se atrevem a manter-se fiéis. Mesmo quando em causa está a oposição aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, ao aborto, à ordenação das mulheres, em causa estão valores e existe uma racionalidade e uma intransigência ética implícitas. Não é por ser uma instituição apodrecida, é porque a instituição não quer se desvirtuar.
Contudo, quer me parecer que a WOAB não reconhece nada disto. Porque no que à Igreja diz respeito, as suas ideias estão já concebidas e não está disponível para ser convencida.
10 comentários:
A seu tempo terás resposta. Jacobina, pois claro. Chamo apenas à atenção para o teu remate que prevê que os meus argumentos estejam toldados por esse ódio irracional de que me acusas. A melhor defesa é o ataque, não é verdade? - colocas como informação prévia que toda a minha argumentação é toldada por esse jacobinismo e marxismo (a minha alma - se a tenho - está parva).Ora vai lá rever as falácias e depois diz-me quantas constam deste post.
O sr. Sancho vem falar em irracionalismo quando a maior prova de irracionalismo é a crença num deus(eses) que não existe(m).
Em relação ao último escândalo no seio da igreja, os casos de pedofília, o problema não está apenas nos c/ de 3% de padres pedófilos (números do Vaticano) mas na constactação de que a instituição igreja tudo fez para abafar os casos: chantageou, comprou as vítimas, ocultou os casos perante o sistema judicial, deu guarida aos padres pedófilos noutras paróquias onde os seus gostos não eram ainda conhecidos, permitiu que padres pedófilos continuassem a ter à sua disposição um rebanho de crianças indefesas, algumas supostamente à guarda das instituições da igeja.
O crime da igreja não é tanto de pedofília pois esse é de cada um que os cometeu. O crime é de cumplicidade, não num caso mas em centenas de milhares. O crime não é de protecção de um pedófilo mas de milhares de pedófilos...
E não estamos a falar da igreja apenas em sentido abstracto mas do Vaticano, do papa e dos seus tentáculos (bispos, cardeais, etc) por esse mundo fora.
O fanatismo cega...na religião mais do que na política ou no Futebol.
amsf,
vc não argumenta, vomita ódio. Por isso, nada tenho a dizer sobre o seu escrito.
woab,
como disse, relativamente ao legado, conheces, há muito anos, a minha opinião (foi contigo que primeiro a partilhei e expus a minha indignação).
O meu texto refere-se ao que me parece uma prática. Instituição "apodrecida" e "que se preocupa muito mais em contabilizar os talentos em ouro" é uma argumentação que não é sustentada na realidade ou verificável empiricamente.
Mas aguardo a tua resposta.
Quanto à tua alma, não é assível de ficar parva...
Só uma achega, porque fervem-me os dedos: obviamente que as instituições democráticas beberam princípios humanistas inclusive nos Evangelhos, mas não terá sido a única fonte e acho que isso até tu concedes. Como julgo que também concedes que os princípios humanistas foram (e continuam a ser) permeáveis a interesses vários (estejamos a falar do que é de César ou em relação ao vil metal) e a puro preconceito (veja-se a título de exemplo - com a devida ressalva que eram outros tempos - a discussão sobre a in-existência de alma dos negros). Mas, dizia eu que, os princípios que hoje fazem parte da doutrina cristã também foram bebidos em outras fontes; ora nem de propósito, veja-se como a dicotomia corpo e alma (palmas para Platão, tão popular na altura, que por sua vez...) foi incorporada numa doutrina que defendia tão somente a ressurreição. Isto só para lembrar que quando andamos a patentear "ideias" a coisa fica um bocadinho mais complicada e não tão transparente quanto fazes crer.
Já agora, que fui violentamente acorrentada ao teu divã (passe a expressão), podes explicar-me essa do meu ressentimento que me torna uma criatura desembestada em relação à ICAR? (cof, cof, ataque à pessoa)
PS: Sim, mais uma vez apaguei o comentário, porque vírgulas fora de sítio fizeram-me espécie e depois achei que queria acrescentar mais algumas coisitas.
E Sancho... a cúpula da Igreja na Região está sim muito mais preocupada em contar os talentos e as influências. Sempre esteve. E por isso à porta da minha casa anda o povinho há anos a contribuir para uma Igreja porque a anterior já não era bem dele. A ver vamos daqui a 30 anos, que outro Bispo virá dizer em relação ao que hoje se constrói. E sim, mesmo eu que lá não entro contribuo com os meus impostos, dado que parte do investimento tem a mãozinha do Estado - o mesmo que é laico.
Ó Sancho
Faz como o teu colega deputado, não permitas comentários, garantes assim a tua paz de espírito e não permites que alguém ponha em causa a tua vaidade "intelectual".
amsf
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