24.6.10

E João Aguiar, não merece ser lembrado?

Estava para não comentar a morte de Saramago, mas as provocações são muitas e, por isso e porque tenho visto tanto tolo fazê-lo, vou também arrotar a minha posta de pescada.
Após o funeral do senhor, a grande polémica foi a ausência de Cavaco da cerimónia. Ora, para além de achar que ele fez muito bem em não embalar na demagogia e hipocrisia tão típicas do politicamente correcto português - de resto, acho que o Saramago revolver-se-ia no caixão com a presença do PR-, provoca-me um certo prurido esta deificação de um autor, apenas porque o tipo mandava umas bojardas à Igreja. Sim, porque não me venham com a treta do Nobel (a Academia Sueca está benzida, depois de dar o Nobel da Paz a Arafat, Rabin e Peres, ou ainda a Al Gore - que teve o mérito de fazer um ppt sobre o aquecimento global). Um prémio, por muito grande que seja, não qualifica um autor ou a sua obra.
Não ponho em causa que Saramago tenha qualidade (não consigo lê-lo, tal como não consigo ler linguagem de sms. Irrita-me!), mas será assim tão importante para a ausência levantar tanta celeuma? É que, aos intelectuais e pseudo que tanto se indignaram, lembro que também recentemente faleceu João Aguiar, igualmente um vulto maior das letras portuguesas, e não vi tanto histerismo populista e serôdio pela ausência de figuras do estado no seu velório.
E, se querem saber a minha opinião, João Aguiar merecia-o, porque escreveu algumas das maiores pérolas que já li, de autores de língua portuguesa, como A Voz dos Deuses, Trono do Altíssimo, A Hora de Sertório, ou Uma Deusa na Bruma.
Ah e também acho que era ateu e comunista (de esquerda era, de certeza!) A diferença, é que João Aguiar primava pelo seu low profile, bom senso e tinha o ego dentro das proporções devidas...

2 comentários:

Woman Once a Bird disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Woman Once a Bird disse...

O facto do reconhecimento do João Aguiar ser menor (e merecia-o) não significa que o reconhecimento devido ao Saramago deva ser menorizado. Mas pronto, vai em paz, rapaz, estás perdoado (estou muito... cristã - porque o cristianismo é detentor desta patente, não é?)