25.8.10

Plataforma democrática: a quem interessa?

Jacinto Serrão já nos habituou a ideias estapafúrdias. A plataforma democrática é só mais uma. O que estranho, contudo, é que Miguel Fonseca, que é um tipo esclarecido e conhecedor da história política, embarque neste non-sense, que só faz sentido nalgumas mentes socialistas.

Admito que alguns apologistas desta solução acreditem que a unidade de toda a oposição pode enfraquecer o PSD. Parece-me, contudo, que teria o efeito contrário, pois dificilmente o eleitorado comunista entenderia uma coligação com os conservadores e liberais do CDS, ou estes aprovariam uma aliança com a ortodoxia do PCP, ou estes ainda com os senhores aristocratas do PND.
Acho mesmo que seria desmobilizadora, prejudicando eleitoralmente todas as forças políticas envolvidas.
Por outro lado, esta plataforma seria amorfa, sem qualquer definição ideológica, parecendo-me incapaz de criar um programa político coerente. Que compromissos poderiam ser estabelecidos entre o Bloco e o CDS? E qual seria a matriz ideológica desta aberração mutante? Direita? Esquerda? Centro?
Ora, do ponto de vista ideológico, parece-me que apenas o PS poderia ser beneficiado porque a haver um entendimento, teriam os partidos mais extremistas que fazer uma inversão ao Centro, aproximando os seus programas ao do PS. Isto seria matar a força motriz destes partidos, que se definem e diferenciam pela sua identidade ideológica e projectos políticos alternativos.
Mas se por um lado a proposta do PS é arrojada e até exótica, por outro é compreensível que venha desse partido, porque é o que mais teria a ganhar e o que menos teria a perder. Se o projecto não vingasse, pior não poderia ficar e teria mostrado ao eleitorado de toda a oposição que as diferenças entre os vários partidos são apenas nominais e não substanciais, catalisando o voto útil em posteriores eleições.
Se, por um qualquer capricho do destino, a plataforma conseguisse derrubar o PSD, a aritmética da vitória colocaria militantes socialistas em todos os lugares chave da administração, relegando para segundo plano os dirigentes dos outros partidos, com uma prática governativa socialista, diluindo qualquer esperança de diferenciação ideológica (qual seria a posição desta plataforma sobre o CINM, ou sobre as questões de costumes, ou sobre a governação de Sócrates, ou sobre candidatos presidenciais, ou sobre a Educação, a Saúde, etc.?)
Por isso, faz sentido que seja o PS a fazer a proposta. O que não faria qualquer sentido era que os restantes partidos a aceitassem, porque reduziria a política a um mero jogo de poder. E a ideia é estapafúrdia exactamente por isso: porque não se pode querer igual aquilo que é, por natureza, diferente.

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