Apesar do passeio que por aí vendiam, a eleição presidencial no Brasil está quase num impasse. Relembre-se que a D. Dilma é produto do Sr. Lula, que por sua vez é resultado das políticas do Sr. Fernando Henrique Cardoso, um homem do PSDB e não do PT. Naturalmente, o Sr. Lula soube aproveitar as deixas e levar o Brasil longe. Muito longe. Agora, impedido de se recandidatar, o Sr. Lula escolheu a D. Dilma como sucessora que por sua vez julgou bastar aproveitar a boleia para ter uma eleição com pouca história. Entretanto o Sr. Serra, um político muito experiente e, dizem, de direita, tem andado a subir nas sondagens, graças em parte ao silêncio da D. Marina candidata verde que arrebatou 20% dos votos na primeira volta e que negou o apoio expresso a qualquer um dos candidatos na segunda volta.
Numa parte final que se quer digna de um filme de suspense, as tricas eleitorais pendem agora para a questão do aborto e as convicções religiosas dos candidatos, aspectos em que ou a D. Dilma mergulha num oceano de incongruências ou não tem lá grande opinião. Ou seja: quando a D. Dilma precisa de pensar pela própria cabeça, independentemente do que pense, mete os pés pelas mãos ou a cabeça na areia, factos que também beneficiam aparentemente o Sr. Serra. Pelo meio as denúncias de corrupção que de um e outro lado, deviam envergonhar e não ser motivo de arremesso.
Nesta confusão generalizada não se julgue que no Brasil estes assuntos são menores. Pelo contrário. Mas a lição importante a tirar desta história tem a ver com outra coisa. O jornalismo que antes nos vendia uma eleição sem história anda agora preso por arames. A D. Dilma até pode ganhar e até pode vir a ser presidente. Mas na política democrática não há vencedores antecipados. Nem dinastias sucessórias. O jornalismo militante pode fazer campanha disfarçada, mas no final o povo soberano é quem decide. Mesmo que a comunicação social pense o contrário e se julgue, curiosamente, no direito de puxar por quem mais, nos últimos anos, lhe tentou coarctar a liberdade de expressão. O que, convenhamos, não deixa de ser uma suave ironia. Ou, se preferirem, um agradável mistério.