"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
27.4.06
O excesso de feriados
Leio algures que o eterno problema da produtividade portuguesa também passa pelo excesso de feriados automaticamente aproveitados para faustosas pontes e férias. Pego na minha agenda de secretária e vejo lá, claro como água, a negação absurda de semelhante afirmação, graças a um muito interessante quadro onde é possível aferir os feriados existentes em cada um dos 25 países da actual União Europeia. Assim, este ano Portugal tem 12 feriados – 1 de Janeiro, 14 de Abril (sexta-feira santa), 25 de Abril, 1 de Maio, 10 e 15 de Junho, 15 de Agosto, 5 de Outubro, 1 de Novembro, 1, 8 e 25 de Dezembro – contra, por exemplo, 15 da Áustria, 16 de Chipre e da Eslováquia, 14 da Eslovénia, da Finlândia, de Malta e da República Checa, 13 da Dinamarca, da Suécia e da Grécia. No mesmo patamar, ou seja com os mesmos 12, temos ainda a Bélgica, a Espanha, a França e a Itália. No extremo, está a Grã-Bretanha com 8 e a Lituânia com 10. Em qualquer um dos casos, sem excepção de país, é necessário somar os feriados municipais que como se sabe são variáveis. Perante este cenário, não consigo vislumbrar que extraordinária relação pode haver entre feriados e produtividade. Como se vê, eis como é fácil desmontar um mito repetidamente usado. Aliás, ainda há bem pouco tempo, constatou-se exactamente o contrário: os portugueses até trabalham muito. Ou pelo menos, trabalham muitas horas. O problema reside, por isso, no se trabalhar mal e não no trabalhar pouco. O que é diferente. Isto só por si iliba boa parte dos trabalhadores que se limita a fazer e a cumprir com o que é pedido. Mas obriga, num outro prisma, a fazer entrar na arena outras duas variáveis: os empresários de mercearia e de pouca visão e o próprio Estado incapaz de mudar a situação.