29.12.06

A menina Natal

Alguém descobriu que as criancinhas preferem as meninas natal aos pais natal. A estapafúrdia ideia está na placa central do Funchal, inundada por um bando de adolescentes apostadas em mostrar as pernas pelo bom do comércio. Claro que as pernas pretendem vender. E mostrar. E insinuar. E claro que as meninas não são inocentes que não percebam o seu verdadeiro papel e a mensagem subliminar que alguém, através delas, pretende fazer passar. Depois do marketing vocacionado para as crianças, nada como inventar o marketing vocacionado para os pais dessas mesmas crianças. Afinal, são eles que têm a carteira e o subsídio para gastar. Talvez por isso as meninas natal sejam uma criação recente num tempo onde tudo se vende e tudo se compra (perdoem-me a frase feita).
Há muito tempo que o Natal entrou nesta decadência sexual insultuosa para o seu verdadeiro espírito. Um espírito cada vez mais mercantilista e estereotipado cujo objectivo único e tirânico é contentar uma massa disforme de gente que não se suporta e que o natal faz sair à rua. Na verdade, passamos um ano inteiro a dizer mal de toda a gente e pouco mais de meia dúzia de dias à procura da redenção e da paz interior que nos faça pedir perdão a Deus (ou a algum Deus), através de curiosos incentivos e subornos.
Lá longe, de certeza absoluta, alguém se diverte muito com este assunto. Neste tempo complicado, que devia ser espartano por sinal, continuamos a insultar o que fomos, esquecendo o que verdadeiramente somos. Mas esta extraordinária experiência esclarece uma dúvida essencial: afinal, nem todas as pessoas são escolhidas a dedo. Há algumas que são escolhidas a perna.