23.2.07

O gozo de Jardim


Depois de muita tinta já ter corrido, apresento aqui as razões pelas quais concordo com a demissão de Alberto João Jardim e que me levam a crer que esta é uma tomada de posição extremamente inteligente. As razões que motivam o ataque são evidentes: prejudicar Alberto João Jardim (AJJ), preparando o assalto ao poder pelo PS-Madeira. Não sei quem congeminou a estratégia, mas desconfio que terá partido da Rua do Surdo. O que é relevante, contudo, é que o tiro sairá pela culatra e poderá ter repercussões futuras extremamente graves para a actual direcção do PS-Madeira e para os (actualmente) instalados em Lisboa.

Passemos, então, às razões que legitimam esta tomada de posição por parte do ainda Presidente do Governo Regional da Madeira.


Do ponto de vista democrático esta decisão fundamenta-se pelo facto do Governo da RAM ver serem mudadas as regras de financiamento, colocando em causa o cumprimento do Programa de Governo aprovado há 2 anos. Ora, perante um tal cenário, é responsável, sensato e legítimo, que seja sufragado um novo programa. Por outro lado, o Governo da RAM entende que a Lei das Finanças Regionais é discriminatória para com a Madeira e atenta contra a Constituição da República e o Estatuto Político-Administrativo, pelo que, não tendo sido vetada pelo Presidente da República, não resta outro caminho que não a demissão. Existe, ainda o argumento de que esta é uma lei persecutória feita à medida da pessoa do Presidente do Governo. Ora, se se entende que o Governo da República cria uma lei que visa apenas prejudicar eleitoralmente o presidente de um Governo Regional, sem qualquer respeito pelas instituições, prejudicando, assim, todo o povo de uma Região, que caminho se poderá adoptar a não ser a demissão?

Do ponto de vista político, esta medida não só é legítima, como é extremamente inteligente porque:


1. denuncia as movimentações sub-reptícias do PS para derrotar o PSD-Madeira;
2. maximiza a oposição ao Governo da República que, num momento em que goza de um certo consenso publicado, irá ter em braços um processo eleitoral que tornará público, enfaticamente e com repercussões nacionais, todos os erros, asneiras, mentiras e aldrabices do Governo;
3. abre ruptura no PS, com um mais que provável afastamento do PS-Madeira em relação à governação socialista;
4. cria um sarilho ao Presidente da República, uma vez que a Lei das Finanças Locais estará efectivamente a ser plebiscitada e, com toda a certeza, será chumbada pela maioria da população madeirense;
5. poderá permitir ao PSD-Madeira uma das maiores maiorias absolutas de sempre, a reboque da revolta popular;
6. reduzirá as esperanças do PS-Madeira chegar a Governo, adiando sine die esta possibilidade (miragem???);
7. provocará uma derrota sem precedentes (estou certo) ao PS-Madeira atendendo à colagem desta direcção ao Governo do Eng. Sócrates, reduzindo a nada Jacinto Serrão e seus pares.

E para isto, Jardim tem alguns trunfos:
a) a vitimização, provocada pela atitude efectivamente persecutória do Governo da República;
b) o capital que detém junto da população sobre a capacidade de governação (alguém terá ilusões que, mesmo em tempo de crise, AJJ está infinitamente melhor preparado para Governar do que qualquer socialista madeirense?)
c) a próxima legislatura não é efectivamente benéfica para o PSD-Madeira, uma vez que muitos deputados deixarão a Assembleia Legislativa Regional. Esta tomada de decisão, contra o PSD-Madeira será devidamente explorada, com a demonstração que Jardim defende os interesses da Madeira, mesmo contra os interesses do Partido.

Por tudo isto, eu percebo perfeitamente o terror que deve imperar na Rua do Surdo. Mas, uma vez mais, neste tabuleiro da política, Jardim demonstra que não é derrotado facilmente. Goste-se ou não do Presidente do PSD-Madeira é preciso reconhecer que para derrotá-lo é preciso ser detentor de know-how político que não existe em abundância por terras lusitanas.

6 comentários:

Anónimo disse...

É preciso que o povo não perceba que o que AJJ faz é por egoismo e egocentrismo e não por amor ao povo que o elegeu.
Quando o povo se aperceber muito desse amor será transformado em odio e sentimento de vingança.

MMV disse...

Tenho a certeza que fez por amor à Madeira e aos Madeirenses... Porque ele reforma e dinheiro já tem, e se quisesse só isso já estava a descansar e sem se chatear...

Espero que aconteça uma das maiores maiorias...

E gostava que o PS fosse o partido menos votado na Madeira para eles terem uma lição de trairem os madeirenses...

Anónimo disse...

Essa da mudança das regras do jogo a meio do mandato já esta gasta. Esse argumento seria válido também para os autarcas que viram as transferências do Governo regional diminuirem e nem por isso se demitiram. Esse argumento infantíl faz-me lembrar as crianças que quando perdem (por sua culpa) fazem birra e exigem que o jogo recomece.-Agora é a sério...agora vou ganhar.
Se a Madeira se afunda não é por culpa da União Europeia ou do Governo central mas por culpa do modelo instaurado nos últimos 30 anos. Se a Madeira fosse um país que inimigo externo AJJ usaria para unir o povo à sua volta...Esta táctica vai acabar com o AJJ a sair pela porta pequena e com a ruina da Madeira...pessoas dessas secam tudo à sua volta e quando desaparecem deixam a sensação de serem insubstituiveis. Mas não são...simplesmente destroem quem o pudesse fazer. São egocêntricos apoiados por parasitas ou incapazes...

Sancho Gomes disse...

AMSF, grande argumentação, a sua... "parasitas incapazes", "egocênctricos", "argumento infantil", "crianças".

Uma riqueza argumentativa sem tamanho.

Quanto aos autarcas, apenas não se demitem porque não iniciam um novo madanto, entende a diferença???

Anónimo disse...

Sancho Gomes:

Excelente artigo este que aqui tens. Subscrevo-o totalmente. Saudações Bloguistas. Nem mais...

Anónimo disse...

Sancho parabéns não pelo que pensas ou escreves mas porque permites comentários. Não és como os palermas arrogantes e ignorantes Gonçalo e Angel que só cagam leras, sem ouvir os outros. Muito democratas, como o chefe...