1.4.09

O Fantasma sai de cena

Confesso que cheguei tarde a Philip Roth. Há uns tempos li, sem grande paixão, Todo-O-Mundo. Este ano dei por mim embrenhado na Conspiração Contra a América, que não sendo uma grande obra literária é, no entanto, um bom livro. Mas não foi por aí que me rendi.

Acabei há pouco (há horas), O Fantasma Sai de Cena, o último livro publicado por Roth. E desta vez assino um armísticio com o escritor, rendo-me às evidências e registo que há muito pouca gente a escrever como Roth, a perceber o mundo como ele.

O Fantasma Sai de Cena fala-nos sobre a velhice. Roth põe em confronto um escritor consagrado, Nathan Zuckerman, de 71 anos, acabado de regressar a Nova Iorque após uma reclusão voluntária de uma década, e um aspirante a escritor, Richard Kliman. O cansaço contra a fogosidade. A resignação contra a ambição, por vezes desmedida.

O autor apresentam-nos um Zuckerman que lida mal com o passado e que não se integra no presente. Amy, a moribunda Amy, que outrora fora amante do seu mentor literário, representa o passado. Jamie, outra mulher, jovem e bela, será o presente. Duas mulheres que nunca lhe pertenceram são o que podia ter sido e o que já não pode ser.

O já-não Zuckerman (a expressão é de Roth) debate-se com as pulsões do desejo que julgava mortas, com as limitações da velhice, com os seus fantasmas passados e presentes, num mundo marcado pela confusão do pós 11 de Setembro, pela reeleição de Bush, pela ambição desmedida, pelos telemóveis, pelas roupas justas das meninas na 5ª Avenida... Um mundo do qual se afastara e ao qual percebe ser demasiado tarde para regressar.

Assim, apenas com mais um momento de insanidade da sua parte - um momento de louca excitação - atira tudo para dentro do saco - excepto o manuscrito que não leu e os livros em segunda mão de Lonoff - e foge o mais depressa que pode. Como pode ser de outro modo? (Como ele gosta de dizer)? Desintegra-se. Ela vem a caminho e ele vai embora. Para sempre.

É desta forma que Roth termina o livro. É assim que Zuckerman, o já-não Zuckerman, sai de cena.

Com uma narrativa directa e envolvente Roth apresenta um grande livro.

O Fantasma Sai de Cena foi editado pela D. Quixote. Está à venda na maioria das livrarias do Funchal.

2 comentários:

MMV disse...

Por acaso um dos últimos livros que li foi de Philip Roth, "casei com um comunista" é muito bom!

Sancho Gomes disse...

Finalmente, já ia sendo tempo de te renderes...:)

Na minha opinião, os melhores livros do Roth são aqueles em que entra o seu alter-ego Zuckerman.
Apenas estranho que tenhas achado o Conspiração contra a América apenas bonzinho, porque na minha opinião é dos melhores (sem o tal alter-ego), tal como o Casei com um Comunista.

Abraço!