13.9.09

Sobre os debates

Na minha opinião, à partida para os debates, havia três campeonatos distintos: a Liga dos Campeões, composta do Paulo Portas e Francisco Louçã; o "intrometido" do Sócrates que ficava ao centro e a Liga dos Últimos, composta por Jerónimo de Sousa e Manuela Ferreira Leite.

O formato dos debates também não parecia ser o mais adequado para o esclarecimento dos eleitores.

Ora, antes de mais, e ao contrário do que me pareceu inicialmente, acho que estes debates serviram muito bem para mostrar os horizontes ideológicos onde cada candidato se situa, bem como para revelar quem tem propostas para o país (e que propostas) e quem não sai da retórica, como única forma de estar na política. Neste sentido, acho que há um grande derrotado, que é Franscico Louçã. Apesar da sua qualidade argumentativa, nunca conseguiu libertar-se do discurso do contra e revelou fragilidades enormes quando foi chamado a apresentar propostas (aliás, tirando algumas boas ideias, o programa do BE é mau, mau, mau!). Perdeu em toda a linha, porque não conseguiu impor as suas qualidades de bom tribuno e ficou exposto na sua (e do BE) fragilidade de conteúdos e na falta de boas propostas de governação.

Ao invés, Portas foi, em minha opinião, o grande vencedor. Dono de uma qualidade argumentativa e de comunicação únicas no panorama político português, com uma agilidade de raciocínio estonteante, Portas ganhou todos os debates onde participou. Foi encostado às cordas algumas vezes, mas conseguiu, "por acumulação de pontos", vencer todos os "jogos". Para tal contribuiu não apenas as suas qualidades retóricas e de homem da comunicação e da "forma", mas também as propostas que apresentou. Em todas as áreas em que se pronunciou, apresentou propostas que, concordando-se ou não, estavam relativamente bem fundamentadas. Portas, em minha opinião, é bem o rosto do PP, composto por gente muito trabalhadora, o que se notou nos debates.

Parece-me que em "ex-aequo" ficam Manuela Ferreira Leite, Jerónimo de Sousa e Sócrates. O secretário-geral do PS porque não foi cilindrado em nenhum debate, quando era muito fácil fazê-lo (mais, nem sequer foi o "bombo da festa" nos restantes debates, o que me pareceu uma má aposta do oposição - mas essa é a só a minha opinião!). Não sendo brilhante, conseguiu que os temas mais incómodos não o fossem assim tanto. Não sei é se este "novo" Sócrates, dulcíssimo conforme se viu ontem à noite, convencerá o eleitorado.

Por outro lado, Jerónimo de Sousa conseguiu mostrar que as bases programáticas do PCP não são assim tão radicais e que à excepção de uma incompreensível lealdade perante a bandeira comunista, o PCP não é igual aos comunistas da Cuba, ou da Coreia, nem sequer parecido ao PC soviético antes de Glasnost. A seu favor contou ainda com a simpatia. Se em cima do acontecimento parecia que ele tinha perdido o(s) debate(s), na memória das pessoas perdurará o seu olhar franco e o seu sorriso honesto. Contra si, pesou a sua manifesta impreparação para discutir aprofundadamente política. Parece-me que ele é quase um senador da ortodoxia (que não é, obrigatoriamente mau, pois garante os valores fundamentais), mas falta-lhe capacidade - até intelectual, porque não dizê-lo? - para discutir programas eleitorais.

Por último, Manuela Ferreira Leite. Esteve razoável em todos os debates. Curiosamente e ao contrário da adjectivação dos socialistas, foi aquela que melhor fez passar as bases programáticas do seu programa, deixando claro que tem substância e que é um programa "de verdade". Os seus opositores, por tanto insistirem no que não estava lá, conseguiram que ela evidenciasse a lacuna dessas argumentações, esvaziando-as. Quer me parecer que dos cinco, Manuela Ferreira Leite foi quem melhor conseguiu passar as propostas que servirão de base à governação. E mostrou que entre o programa e aquilo que diz há uma perfeita sintonia e coerência.
Por tanto lhe querem colar esses rótulos, ficou patente que ela nem é uma neo-liberal, nem é ultra-conservadora. Mais, subrepticiamente, passou a ideia de que o programa do PSD é o único que foge à demagogia tão tentadora em tempo de eleições.

Quanto ao debate entre ela e Sócrates, ao contrário do que ouvi ontem, não me parece que ela o tenha perdido. Bem pelo contrário: conseguiu evitar bem as questões embaraçosas e conseguiu ser transparente. Sócrates bem que tentou apanhá-la nas curvas, mas acho que, na maioria das vezes, saiu o tiro pela culatra, como na questão da economia, da fiscalidade, das questões sociais e segurança social, da saúde, da educação. Tirando o "fait-diver" do caso da Madeira, que o PS agarrou-se com unhas e dentes por manifesta incapacidade para criar uma dinâmica de vitória, a verdade é que na generalidade quem passou algum conteúdo foi Manuela Ferreira Leite. Como prova disto, basta tentarmos lembrar-nos de uma proposta que José Sócrates tenha apresentado ontem à noite. Lembram-se de alguma?
E mesmo com as manifestas dificuldades que MFL tem em comunicar (ao contrário de Sócrates), a verdade é que ela desmontou cabalmente a argumentação de Sócrates, que na forma é melhor, mas muito parca em conteúdos.
Não gosto muito de quantificar, mas se tivesse que avaliar, daria 58 pontos a MFL, contra 42 de Sócrates.

PS - Não é curioso que a Madeira esteja no centro destas eleições? E com tanta subordinação aos interesses do PS nacional, os socialistas madeirenses ainda se perguntam porque não conseguem ultrapassar a mediocridade, nos seus resultados eleitorais. Acho que têm um longo caminho a percorrer e enquanto não ousarem manter-se de pé com honra e dignidade, jamais serão alternativa credível ao tal "polvo" laranja!

2 comentários:

Unknown disse...

O Sancho é um espanto. Então a análise que faz de Francisco Louçã, um dos maiores políticos da actualidade portuguesa, goste-se ou não das suas propostas, é mesmo de um PSD que nunca gostou dessa esquerda, que incomoda muito mais, que o chá e simpatia de Jerónimo de Sousa que só sabe dizer mal dos opositores por trás das costas porque quando os tem pela frente perde o pio.
Eu compreendo esta simpatia do Sancho, ou se compreendo...

Sancho Gomes disse...

simplesmente,

a demagogia incomoda-me sempre, esteja ela na boca de políticos de direita ou de esquerda. e ela anda na boca do Louçã, o que até nem é pior (a demagogia não é senão a perversão da utopia) não fosse ser desmascarado. e isso pareceu-me evidente. discorda de mim? pois que está no seu direito. não me venha é criticar por não entoar loas ao Louçã ou por não ver essa magnitude que vc vê nele.
já em relação ao Jerónimo, parece-me haver aí algum ressabiamento. que mal tem reconhecer a evidência de que o senhor é simpático?