20.1.10

Um candidato

No circo nacional, ninguém bate o Dr. Alegre. Apostado em criar factos políticos com elevada projecção mediática, o Dr. Alegre nunca está feliz com a sua vivência política nula e acalenta, já não secretamente, tornar-se qualquer coisa de importante fora da poesia e das jantaradas com os amigos.

Agora, anunciou uma nova candidatura presidencial que, embora ainda muito longe, já colocou o jornalismo do costume em entusiástica apoteose. Pelo que nos é dado entender, o Dr. Alegre é uma espécie de salvador da pátria, que vai vencer a crise e devolver a esperança aos portugueses, colocando-nos no caminho da salvação terrena e, quem sabe, numa nova era da esquerda moderna onde tudo, com tempo e jeito, se resolve.

São-me absolutamente indiferentes as ideias e as manias do Dr. Alegre e dos seus convivas de ocasião. Ainda assim, convém avisar a criatura que, se depois de mais de 30 anos como deputado nunca fez parte da solução, deve ser então, e de certeza absoluta, parte do problema. E que a tristeza deste pobre país, que ele novamente se propõe representar, também se vê pelos putativos candidatos que recorrentemente se apresentam a eleições: seja porque julgam poder vencê-las, seja porque adoram jantaradas regadas com poemas e gritos de revolução. Que a coisa aconteça sempre de cinco em cinco anos, é pormenor de pouca monta porque, bem no âmago do Dr. Alegre, e na verdade, não há qualquer utilidade no tempo presente: ele, ou sonha com um passado que não volta, ou quer um futuro que não existe.