Carrilho foi um ministro relativamente competente da Cultura. Fez alguma coisa de positiva e, sobretudo, percebeu-se que tinha ideias definidas ao ponto de lhe chamarem o Jack Lang português. Mas falava entre os seus; entre pares, entre gente que lê, que vê, que conhece o mundo, que fala uma espécie de linguagem hermética e codificada, inacessível à grande maioria dos homens comuns. Claro que os intelectuais adoraram a ideia e vêem no avanço de um dos seus uma boa, uma excelente, notícia. A malta, sabendo como isto funciona e tendo acesso aos jornais, já constrói um cenário à medida dos sonhos. Profundo e denso equívoco.
Lisboa não é o Ministério da Cultura. Lisboa é muito diferente e não se conserta com retretes muito elaboradas e com distribuição de fundos e subsídios duvidosos. Gerir a tasca não é o mesmo que gerir o hipermercado: a heterogeneidade e as necessidades tornam tudo uma complexidade imensa e há problemas muito para além da persistente desconstrução de Derrida. Em Lisboa há povo, há gente rude, há gente que nunca leu um livro, há gente que nunca foi a um espectáculo, há gente que não sabe o que é ópera e muito menos concertos de música clássica, aliás como em todo o lado. E há gente que conhecendo a Bárbara, de certeza absoluta, não se parece com ela.
B. Macedo