Conheci-o bem.
(e às vezes ri-me dele, confesso. Da mania que ele tinha de passear em jantares intermináveis com uma mala cheia de livros dele. E com a Gilda.)
Tivemos boas conversas nas noites longas de uma cidade curta. Com a Gilda.
Sobre livros e sobre a sublime arte de escrever.
Sobre um bar na Zona Velha que não conheci mas que gostava de ter conhecido.
Sobre noites de tertúlia que acabavam em sacro-santas bebedeiras.
Sobre poesia e poetas madeirenses.
(sobre Herberto).
Sobre uma banda que nunca ouvi nas noites do Savoy.
Sobre um cónego mandado à merda.
Sobre a Gilda. E sobre o "meu filho Marco". E sobre a "minha filha Natacha".
Numa madrugada dedicada à poesia, num café do Café do Teatro que ainda não se assemelhava
a um supermercado, ouvi-o recitar um poema escrito pelo meu pai. Fê-lo bem. Com emoção.
Um dia, quis incluir-me numa corrente de poesia que ganhava vida no correio electrónico.
"Tens talento"
dizia o generoso José António Gonçalves, tentando convencer-me, com a Gilda ao lado.
Esqueceu-se da minha fobia às correntes. E de que ele próprio detestava correntes.
Escreveu como uma fera, o José António. Rápida e instintivamente. Como uma fera.
Sabem, meus caros, há notícias que nos batem como barrotes de madeira. Que nos derrubam e nos deixam pregados ao chão, olhos fechados a tentar recuperar o folêgo. Ou que são como putas. Que nos roubam a carteira e nos deixam sem saber para que lado é o norte. Há notícias que nunca deveriam ser dadas.
Gonçalo Nuno Santos
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