No passado dia 25, o Supremo Tribunal de Justiça do EUA recusou o pedido para reimplantar os tubos de alimentação em Terri Schiavo.
Este caso veio, de novo, focar a nossa atenção na eutanásia. Fazer de Deus ou, para os agnósticos, agir pela Mãe-Natureza. Confesso a minha extrema dificuldade em ter uma posição convicta e absoluta. De um lado temos o mais nobre dos valores, o valor da vida. Do outro lado, temos o direito de disfrutar de um mínimo de condições para exercermos o anterior.
Quão forte e maldito este poder de decidir pelos outros ? Será legítimo utilizá-lo ? Mas, também, será legítimo virar a cara a quem nos pede ajuda para terminar o seu sofrimento ?
Sei que de pouco adianta, mas apenas consigo colocar as questões e esperar (temerária e egoisticamente) que jamais me veja na contingência de ser obrigado a tomar este tipo de decisões.
No entanto, Terri Schiavo acrescenta uma nova dimensão, mais profunda e delicada. Que fazer quando alguém não consegue apelar à piedade alheia ? Que fazer quando alguém, em estado vegetativo irreversível à 15 anos, não nos deu a conhecer a sua vontade ?
Razões existirão para suportar ambas as decisões, mas quando vejo os olhos sem expressão de Terri, não me conformo com o baixar de braços e acho insuportável a forma cada vez menos humana e insensível com que tudo está a ser abordado ("Segundo os médicos, Terri, que há 15 anos está em estado de coma persistente, morrerá por desidratação na próxima semana", DN de 25.03.2005, página 21, Sociedade). Esta frieza técnica é destroçante, esta previsibilidade artificial trespassa qualquer um.
Não tenho o direito, o dever, nem a capacidade para apontar caminhos ou soluções salomónicas (necessariamente). Não consigo, sequer, sofrer este sofrimento. Nem eu, nem ninguém vive a dor paterna, materna, fraterna e conjugal que a sua família vive. Resta-me esperar que, no fim deste calvário, Terri encontre a felicidade que, há 15 anos, abandonou-a.
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