3.10.05

"Qué Flô?"

Nos meus tempos de Lisboa existiam personagens fantásticos que entravam nos bares do Bairro Alto e da "24" para vender flores. Indianos e paquistaneses de bigode e restos de smoking que distribuiam rosas vermelhas a troco de 500 escudos.

"Qué Flô? - quinhentos escudo!"

diziam, enquanto abriam a boca num sorriso de dentes amarelos roubado aos galãs de Bollywood.

"Qué Flô? - quinhentos escudo. Flô boa pá minina. Mininas gosta de flô! Só quinhentos escudo!"

insistiam, enquanto olhavam para o balcão, enquanto esperavam o inevitável aparecimento do gerente da tasca e os inevitáveis empurrões em direcção à porta da rua.

Eram personagens fascinantes. Que às vezes também vendiam relógios, erva, telemóveis, colares e quinquilharia de toda a espécie. E que nunca chegaram à Madeira.

Curiosamente, sábado passado fui surprendido numa discoteca do Funchal por um tipo de smoking e sorriso plastificado, que distribuia rosas vermelhas a quem se lhe atravessava ao caminho.

Não era um "qué flô", mas sim um figurante contratado pela candidatura do Dr. C. Pereira.

"Qué flô? - troco por um voto!",

parecia dizer, sorriso de plástico que assustava as meninas com quem se cruzava.

"Qué flô? - troco por um voto",

parecia dizer, sorriso copiado dos personagens massificados pelos cartazes de plástico do Dr. C. Pereira.

"Qué flô? - troco por um voto",

parecia dizer, sorriso de plástico copiado ao Dr. C. Pereira.

"Qué flô? É de plástico. Como a campanha do Dr. C. Pereira".

Senti falta dos indianos.