"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
14.12.05
O Filme de Soraia
Será Soraia Chaves a razão que levou mais de 300 mil portugueses às salas de cinema nacionais para ver “O Crime do Padre Amaro”?
Eu creio bem que sim. É porque a película de Carlos Coelho da Silva, que conta também com as interpretações Ruy de Carvalho (uma cena), Nicolau Breyner, Jorge Corrula, Nuno Mello, Ana Bustorf e Rui Unas, entre outros, não é grande coisa. Mistura, às vezes de forma incoerente, vários estilos cinematográficos. Apresenta-nos personagens a mais e pior, absolutamente estereotipadas. Os cabeleireiros são gays. Os criminosos são negros e rappers. O gangster é mau como as cobras e burro. Os pais não gostam dos namorados das filhas e por isso elas fogem de casa para viver com o bandido que deixa de ser bandido. Os padres são corruptos e arrastam segredos tenebrosos atrás das batinas. A narrativa (a evolução das personagens e dos eventos) sofre de uma profunda descontinuidade, que transforma parte do filme num emaranhado sem sentido.
De facto, apesar do argumento – uma adaptação livre do romance de Eça de Queiroz – ser vendável (um bairro pobre, um padre acabado de sair do seminário que se deixa tentar pela belíssima Amélia, um gangster chateado, uns tiros e perseguições policiais), não fora Soraia Chaves e, garanto-vos, o filme não teria um décimo dos espectadores.
Com Soraia é quase impossível dizer mal de “O Crime do Padre Amaro”. Porque ela compensa qualquer falha. O filme podia ser mudo, a preto e branco, meter naves de marcianos e corridas de carros pelo meio e passar-se no século X. Podia ter como protagonista o Stallone e ser realizado pelo Ed Wood. Mas mesmo assim, garanto-vos, a Soraia, despida de preconceitos e de qualquer adereço de vestuário, valia o dinheiro do bilhete.
Post-Scriptum: Este ano, o cinema português está em alta, no que se refere ao número de espectadores. “Alice” foi visto por mais de 50 mil pessoas. “O Crime do Padre Amaro” por mais de 300 mil. Resta conhecer o percurso que fará “O Fatalista”, de João Botelho. Outro realizador que vende bem.
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2 comentários:
Vou fazer um "five to one" à pala desta foto...
EB
NB: E tu?!
Ainda n vi o filme, mas quer ver a "obra" divina, retocada pelas mãos dos humanos.
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