31.5.06

A quinta dimensão

Vivemos num mundo paralelo. A realidade não entra pela nossa porta e o que mais fazemos é exactamente negar a verdade que à nossa frente se estende. Isso explica muita coisa na comunicação, na política, na religião, no futebol. A fábula e o mito cruzam-se algures num longínquo passado em que os portugueses se recusaram a enfrentar o presente, preferindo viver acorrentados à memória colectiva inventada e deturpada. Ao cabo e ao resto, como Eduardo Lourenço algures escreveu é sempre possível que “(...) o único paradigma que dá [dê] sentido ao nosso presente é ainda – e talvez mais do que nunca – o do passado". Tristes e duras palavras e nada de mais cruel e verdadeiro. Sempre tememos a verdade porque é mais simples, é mais fácil, viver a nossa triste ignorância enquanto nos recusamos a abrir os olhos e a enfrentar os nossos medos. Gostamos de estímulos e de epopeias assombrosas. Obras audazes e faraónicas. Algo que nos sirva de alento para que diariamente encontremos algo em nós, neste país e neste povo, que valha a pena, que traga significado, que nos dê esperança e que nos faça relembrar os gloriosos tempos em que fomos grandes (mas porque será que ninguém desmonta esta mentira histórica???). Por isso preferimos e gostamos daqueles que nos mentem, daqueles que nos escondem a verdade, dos que airosamente nos contam embustes e histórias. No fundo, daqueles que nos falam de um outro país que não existe mas que nos dizem, e por vezes até garantem, ser o nosso.