"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
19.6.06
Por que vibramos quando falam bem de Portugal?
O exercício de jornalismo por estes dias mais vulgar, e aquele que mais emociona o espectador, é quando nos surge no écran alguém a elogiar Portugal. Pode ser o maior palerma do mundo, e até nem saber nada sobre este pais, mas se gabar Portugal, por mais ténue e infundado que seja o elogio, nós derretemo-nos. Já fiz esta experiência, comigo mesmo até, e dá sempre o mesmo resultado: o embevecimento.
Isto tem acontecido com uma frequência avassaladora a propósito do campeonato do mundo de futebol. Que os jogadores portugueses sejam bons, já não é mau que o digam, mas extrair daí as qualidades míticas que este “bom povo” não tem é que é mau. E vai daí que se diz de tudo e por tempo interminável. Até já ouvi, com um sorriso cordato de um jornalista, um alemão dizer que Portugal deveria ser um exemplo a seguir pelo mundo. Claro que eu, depois de ouvir isto, não me importava nada em trocar de nacionalidade com este alemão ignorante.
De tempos a tempos, quase sempre motivados pela bola, surgem estes ataques de nacionalismo exacerbado. E então dá-nos pra dizer que somos muitos bons, que temos especialistas de tudo na América e nos grandes países, que há um cientista português na NASA, que o titânio usado nos satélites é feito em Portugal, etc, etc. Enfim, o mais infeliz desta “estória” é que se esquecem que, e em maiores quantidades, há por todo o mundo cientistas e especialistas iranianos, iraquianos, sírios, quenianos, uruguaios e nepaleses. E o facto destes países exportarem alguma inteligência não faz deles, como é do senso comum, países prósperos ou sequer próximos da prosperidade.
Porém, o pior é quando aparece alguém de fora que conhece bem as nossas fraquezas e nos aponta com o dedo nos sítios certos. Como fez bem recentemente o gestor Jack Welsh, dizendo-nos, pedagogicamente, que somos desorganizados até à medula, que não gostamos de trabalhar e que a continuarmos assim nem nos próximos 40 anos apanharemos o comboio europeu. Claro que, tirando apenas alguns indivíduos atentos, veio logo a ladainha de que os estrangeiros “têm a mania”, de que “nós não recebemos lições de ninguém” e que “há gente que acha que o que vem de fora é que é bom”. Enfim, um espectáculo deplorável.
De outro ângulo, mas igualmente ilustrativo, é o exemplo dos grandes concertos poprock, também eles paradigmáticos. Todas as bandas que na sua agenda arranjam um tempinho (quando arranjam!) para passar pelo rectângulo dizem invariavelmente que o público português é o melhor do mundo. E claro, isto faz eco nos ouvidos indígenas, os quais ficam convencidos que são mesmo o melhor público do mundo. Não lhes ocorre que essas bandas dizem exactamente o mesmo, e se calhar com mais justeza, em todas as cidades por onde actuam.
Mas a resposta à pergunta inicial é muito simples. Como em quase tudo vivemos fora da realidade, quando falam bem de nós, mesmo que a efabular, vibramos.
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3 comentários:
Pena é que essa vibração resulte quase sempre do futebol e em muitos casos até ao momento em que a nossa Selecção é eliminada...
Vibramos porque somos portuguese e porque, tal como com o Brasil, já quase só o futebol nos dá alegria e algum orgulho :)
Eu realmente não percebo. É característica portuguesa estar sempre a queixar-se e dizer mal, mas nada fazer. Quando finalmente o povo até está animado, mais positivo do que o costume, vêm estes velhos do restelo assinalar óbvio... e so what? Se é por causa do futebol qual é o problema? É muito mais agradável ver as pessoas sorridentes do que infelizes. Basta já o quotidiano cinzento de um país à deriva...
Marisa Frade.
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