À procura da sociedade perfeita, por decreto como é costume, anda o partido socialista. Bom exemplo da coisa é a recente lei da paridade que pretende impor aos partidos políticos quotas sexuais para as suas listas eleitorais. Confesso que já pouco me espanta. O modo como o Estado pretende se imiscuir na vida interna dos partidos não é nada de original nem de novo. Os resquícios de um outro tipo de autoritarismo, infelizmente, não foram varridos da memória e aos poucos regressam sobre a forma de leis e decretos-lei. Não há muito tempo, por exemplo, fizeram uma lei específica contra o PCP que era o único partido político que tinha votações por braço no ar quando estava em causa a eleição de pessoas. Como tal fenómeno parecia incomodar muita gente, que é o mesmo que dizer que poucos gostavam, nada como legislar sobre o assunto e meter a colher na sopa alheia.
Mas não vale a pena esconder o problema. A participação das mulheres na vida política é fraca talvez, e porque não?, por vontade própria ou por simples desinteresse. Contudo, nunca vi escrito em lado nenhum que mulher não entra e, curiosamente, os únicos partidos que aprovam este princípio são aqueles que nos seus estatutos lhes garantem e dão em papel específico dentro de um subgrupo. Quem não se lembra da mais ou menos recente eleição para as Mulheres Socialistas que foi motivo de forte chacota nacional? Entretanto, a lei que havia voltado para trás porque o presidente, esse perigoso homem da direita, não concordou com ela, ganhou nova forma: pretende agora penalizar os partidos políticos não cumpridores através do corte, sempre oportuno, das subvenções estatais. Como diria o povo, “para grandes males, grandes remédios”. Pena que não seja um remédio democrático e que não respeite a vida interna das organizações. Ainda hoje no Público, um artigo interessante mostra bem os meandros deste fascismo que quer nivelar sexualmente tudo e mais alguma coisa (e cada vez mais parecido – espantem-se!!! – com a América que muitos abominam): em Espanha, as empresas, públicas ou privadas, com mais de 50 trabalhadores “devem procurar incluir mo seu conselho de administração um número crescente de mulheres até alcançar os 40 por cento em oito anos. Em troca, podem ter vantagens nas adjudicações públicas quando compitam com empresas com uma oferta similar mas com menor nível da igualdade”. Mais: “(...) os acordos colectivos de empresas com mais de 250 trabalhadores têm de negociar planos de igualdade, dando preferência à contratação e às promoções do sexo menos representado. Os incentivos para as empresas são similares aos previstos nos conselhos de administração.” A meio disto tudo, desconheço como se resolverá o problema da construção civil, por exemplo. Ou mesmo do futebol. E desconfio que haverá muita mulher contratada apenas para que alguém possa ganhar concursos públicos. Já nada espanta. Ou pouco espanto. Ver um Estado, cada vez mais de cariz omnipresente, meter-se na vida das empresas privadas, acenando-lhe com benesses e vantagens estapafúrdias a troco de uma quimera, é como ver um porco a andar de bicicleta.