1.8.06

A lista

À procura da sociedade perfeita e perfeitamente transparente anda o governo nacional. Vai daí decidiu avançar com a publicação de uma lista na Internet (não sei se esta era uma das medidas do célebre plano tecnológico) de conceituados e milionários caloteiros. Conhece-se o método, fascista por sinal, para arranjar bodes expiatórios e demonstrar a plena incapacidade do Estado em exercer o poder que lhe delegamos. É a prova inequívoca de como o Estado, o nosso Estado, não cumpre com as suas funções e que tem de descer ao mais baixo e reles dos métodos para conseguir dividendos. Muitos puritanos irão dizer que quem não deve não teme. E que é justo que essa lista seja publicada para se saber quem deve e quem não deve ao Estado, nem que seja pela mais pública das vergonhas. Lamento discordar porque o problema de fundo é o princípio. E só depois o método. È este mesmo princípio que qualquer dia justificará a publicação de listas dos que têm multas por pagar, dos medicamentos que cada um compra, dos exames que cada cidadão faz, das doenças que foram diagnosticadas, do cadastro individual, das dívidas aos bancos e outras pérolas do género. Não haverá travão. Nem perdão. Tudo em nome da justiça e de um ideal de clareza e transparência onde o cidadão se sentirá plenamente esmagado. Porém tenho a certeza absoluta que tudo isto seria mais simples e perfeitamente evitável, se este mesmíssimo Estado fosse um Estado como deve ser e cumprisse com as suas obrigações. Como não é, os métodos já não espantam. Ou pelo menos não devem espantar.