15.1.07

O engodo

Disparando na direcção errada, como é habitual em si, o Sr. Hermínio Loureiro (que ainda não cumpriu a promessa de suspender o seu mandato) trouxe a profissionalização da arbitragem para a ordem do dia. A ideia é tão simplória como a mente que a avança: já que todos os protagonistas envolvidos no jogo são profissionais, os árbitros também têm de ser profissionais. Talvez fosse escusado comentar semelhante idiotia vinda de quem vem, mas se hoje, e como dizem, há corrupção como será se o sustento desta gente depender do modo como apita domingo a domingo? Mais: como se pode confiar nas classificações dos árbitros quando se conhecem tantos vergonhosos casos de situações surreais onde há claro benefício do infractor? O futebol em Portugal é cada vez mais uma utopia. Nesta jornada, em sete jogos até agora, apontaram-se oito golos. Isto depois de mais de um mês de descanso que não serviu para arejar as cabecinhas de técnicos medíocres e de jogadores preocupados em demasia com os seus desempenhos teatrais de má qualidade. No sábado, em jogo transmitido em sinal aberto, Belenenses e Sporting deram um bom exemplo de como o problema não está na arbitragem e na sua profissionalização. O problema está em tudo o resto: nos jogadores banais, nos técnicos insignificantes, nos dirigentes interesseiros e no público pouco exigente que ainda alimenta este circo. O Sr. Loureiro pode continuar descansado. Conseguiu o que todos os outros antes de si também conseguiram por tempo indeterminado: desviar as atenções do verdadeiro problema estrutural que o nosso futebol atravessa. Enquanto isso, lá vai ele passeando de terra em terra apresentando as suas salvadoras ideias para o pântano. Como a história infelizmente nos ensina, o Sr. Loureiro não é nenhum salvador: é apenas mais um coveiro.