19.1.07

As abjectas palavras de Eduardo Prado Coelho.

A desonestidade intelectual e a baixeza moral de Eduardo Prado Coelho não param de surpreender. O colunista do Público, mais conhecido por adorar cobrir-se com pele de vestal da moralidade humanista, tem, de vez em quando, umas saídas muito mais adequadas à qualquer moço de recados, do que a um opinion maker.
Desta feita, na sua crónica do dia 18, a coberto de uma suposta crítica às afirmações proferidas por um clérigo (Monsenhor Luciano Guerra) sobre o aborto, Eduardo Prado Coelho (EPC) ataca traiçoeira e cobardemente uma instituição como a Igreja Católica que, por muito que lhe custe, reúne entre os seus membros uma grande parte da sociedade portuguesa. Fazendo crer que as suas críticas apenas se destinam às afirmações do clérigo em questão (algumas delas, de resto, muito infelizes) e que sabe separar aquela que é a posição de Igreja sobre o aborto, das posições adoptadas por alguns dos seus membros e sob o chapéu de uma suposta e auto-proclamada neutralidade, este candidato a “mata-frades” enfia a farpazita que tanto o orgulha e que motiva toda a sua ladainha. Depois de tanto alarde sobre isenção, EPC afirma: Gostaria que a doutrina da Igreja fosse de generosidade, alegria, amor pela vida. Mas, na maior parte das vezes, é este conjunto inacreditável, bolorento, enferrujado, de absurdos.
Não gosto do EPC e gostaria sinceramente de reconhecer-lhe tanta honestidade, quanto cultura e inteligência. Porque reconheço-lhe uma destreza mental que não é comum à maioria dos demais colunistas. Todavia, de cada vez que leio a sua coluna, mais do que admirar as qualidades intelectuais, culturais e literárias, abomino a vileza com que se dirige àqueles que pensam de forma diversa. Porque EPC, não sendo um imbecil qualquer, sabe perfeitamente que as posições assumidas pelo Monsenhor Guerra, ou pelo senhor pároco X ou Y, não fazem a doutrina da Igreja sobre as suas orientações ético-religiosas. E é vil, porque EPC conhecendo, omite, deliberadamente, todas as encíclicas e textos religiosos libertados por Roma sobre esta matéria. Como pensamento nascido do homem (o dogma da infalibilidade apenas se refere às questões religiosas), as orientações da Igreja são criticáveis. Mas EPC, pela responsabilidade que tem, deveria ser suficientemente honesto para não entorpecer a mente dos seus leitores com estes ardis. Se quer criticar a posição da Igreja Católica sobre o aborto, faça-o directamente. Se quer criticar o Catolicismo, é livre para o fazer. Não é legítimo, contudo, que de forma deliberada, EPC aproveite as afirmações infelizes de um clérigo, para confundi-las com a doutrina da Igreja. Porque conscientemente, não está a atirar apenas a água, mas o bebé. E isto é baixo, desonesto e abjecto.

PS - E antes que me venham acusar de tendencioso - que sou!-, oiçam ou leiam as palavras do Patriarca de Lisboa sobre métodos contraceptivos, aborto, pílula do dia seguinte. Porque ele sim, representa a Santa Sé em Portugal.

7 comentários:

Anónimo disse...

Camarada Sancho,

Como é sábado e estou a recuperar de uma 'futebolada' em que descobri, fruto das dores, que tinha músculos desconhecidos no corpo, vou dedicar algum tempo a comentar este teu texto, como sempre bem escrito e fundamentado.

1 - Não gosto de Eduardo Prado Coelho porque, ao contrário do que se convencionou dizer sobre ele, não lhe reconheço coerêcia. Oscila segundo o vento dominante.

2 - Também concordo que é errado confundir a Igreja Católica com a opinião de um padre. No entanto, a posição desse tal 'monsenhor' é partilhada por muitos membros da hierarquia da Igreja. Recordo que o cónego de Castelo de Vide prometeu escomungar todos os que votarem 'sim' no referendo - não sei como é que vai descobrir o sentido dos votos... - e as comparações absurdas entre a pena de morte e o aborto são repetidas várias vezes. Curiosamente só muito tarde, já no final século XX, o Vaticano assumiu uma posição contrária à pena de morte, o que sempre me pareceu uma das maiores hipocrisias dos chefes da Igreja. O pedido de desculpas, acanhado, pelos crimes hediondos da Inquisição e o reconhecimento da cumplicidade de Pio XII com os nazis foram diluídos em encíclicas vazias e sem sentido. Antes ainda tentaram beatificar esse Papa que ajudou à fuga dos criminosos de guerra nazis.

3 - Recordo, sobre o aborto, uma mensagem de João Pulo II, durante a guerra da Bósnia. Como a violação era uma das 'armas' usadas pelas várias partes, o tal 'Santo' padre teve o descaramento de apelar às mulheres violadas que engravidaram... para não abortarem! Se percebi bem a brutalidade desta afirmação, o que ele pretendia era que as mulheres aceitassem os filhos fruto da violência. Esta posição não tem defesa, nem justifica qualquer atenunate. É uma vergonha! É por estas, e por muitas outras, que não acredito, nem tenho grande respeito, pela hierarquia da Igreja Católica, com algumas honrosas excepções.

4 - Reconheço, no entanto, que neste caso do referendo sobre o aborto a Igreja Católica portuguesa, que tem um excelente cardeal à frente - um homem muito mais esclarecido que a esmagadora maioria dos seus subordinados e um pensador muito interessante de ler - está a ter uma posição coerente, embora alguns estraguem a pintura com barbaridades 'talibã' como a do Bispo de Bragança e outros.

5 - Concordo que Portugal tem um número imenso de baptizados (sou um deles) pela Igreja Católica. No entanto, felizmente, ainda somos um país laico em que as religiões não se misturam com a justiça e com a orgnização do Estado. Só assim se pode falar em democracia. É óbvio que a nossa moral é judaico-cristã, como a de todos os países ocidentais, mas a razão ainda se sobrepõe às crenças religiosas.

6 - Voltando ao EPC, que é acusado de confundir propositadamente a árvore com a floresta. É verdade, mas também não é isso que têm feito os vários movimentos do 'não'? Sinceramente, nesta campanha penso que ninguém vai sair de mãos limpas, muito pelo contrário. A honestidade intlectual foi completamente banida do debate.

Anónimo disse...

Sancho

Mais uma vez não assinei o comentário anterior,
Desculpa

Jorge Freitas Sousa

Anónimo disse...

Uma outra perspectiva:
Anselmo Borges, no DN de Domingo. ;)

Sancho Gomes disse...

Camarada Jorge (eu nada tenho contra as apropriações de palavras, feitas por forças políticas ou militares;),

É sempre um prazer ler o que escreves e discutir contigo.
Mais, é exactamente por haver leitores e comentadores como tu que eu acho que a blogosfera só faz sentido se permitir o diálogo e o debate, apesar de compreender que por vezes os insultos são revoltantes. Ainda assim e felizmente, são uma minoria.
Quanto à súplica de João Paulo II (porque foi disso que se tratou) e apesar de compreender a tua revolta (na altura, também esta posição revoltou-me), não a podemos entender fora do contexto: a Igreja entende que a vida tem inicio no momento da fecundação. A súplica de João Paulo II surge neste contexto, ou seja, apesar do crime hediondo que precedeu essa fecundação, as vítimas não deveriam, elas próprias, cometer outro “crime”, que seria a destruição de uma vida. Repara que esta perspectiva encaixa-se perfeitamente no conceito de amor ao próximo e no perdão cristão. Percebo que seja difícil aceitar isto, mas no fundo a súplica de João Paulo II revela-se como uma orientação para o caminho do humanismo cristão e (porque não dize-lo?), o caminho da salvação.

Mas, na sequência disto, há uma crítica ainda mais severa que poderemos fazer: se é consequência do amor e o perdão cristão suplicar a estas mulheres que não abortem, como será possível condená-las por o fazerem?
Esta é uma crítica justa, apesar da severidade. E por isso, é que a Igreja não as condenou. Por isso é que a Igreja não condena (os homens, talvez) as mulheres que abortam, não sendo, portanto, aceitável que homens da Igreja entrem pela condenação fácil.

Permite-me ainda falar um bocadito sobre a excomunhão. É óbvio que as afirmações do Cónego são uma perfeita idiotice. Todavia, excomunhão não tem o peso que outrora tentava-se dar. Excomunhão significa apenas que alguém fica privado de integrar a comunidade católica, não altera a relação que cada pessoa tem com Deus. Repara que qualquer comunidade tem as suas regras e a excomunhão é uma forma de penalizar quem quebrar essa directrizes. Ou seja, não deixa de ser cristão, apenas não poderá participar no rito litúrgico.

Por último, o EPC. Concordo que existem excessos de parte a parte. Mas o escritozinho do EPC não era em defesa da posição do Sim. Era uma suposta crítica a um homem. O motivo da irritação é que o senhor misturou, propositadamente, tudo, com o objectivo claro e (insisto) abjecto de confundir os leitores.

Um grande abraço!

Sancho Gomes disse...

WOAB, não li o Mestre, mas vou ver se arranjo. E o texto, é bom???

Anónimo disse...

Eu arranjo-te. Aqui fica o link:
http://dn.sapo.pt/2007/01/21/opiniao/referendo_sobre_o_aborto.html

Woman Once a Bird disse...

Aanónima de cima sou eu. É que esta história do novo blogger só tem arranjado problemas...
Bom, mas ficas com o link.