16.1.07

Um caso

A equipa do Dr. Louçã tem vindo acusar os defensores do não, e nomeadamente a equipa do Dr. Bagão Félix, de estar a ser financiada por milionários conservadores interessados em fazer chumbar o referendo. A história, uma demência completa, começou durante o fim-de-semana e foi hoje continuada por um tal de Jorge Costa, num sinal claro de que a tese, para além de perigosa, é também contagiosa. Para quem se diz muito interessado e empenhado no referendo, há que convir que este método de campanha (que basicamente se resume a fazer queixinhas do adversário) faz conjecturar sobre os seus verdadeiros propósitos. Com tanta asneira junta, é justo desconfiar de certos episódios políticos que servem, descaradamente, uma certa esquerda apelidada de folclórica quando esta se sente órfã das causas de ruptura que tanto gosta de desfilar. De facto, caro leitor, e na realidade complexa que nos amarra, se no referendo acabar por vencer o sim, o Dr. Louçã ficará mais pobre e com menos coelhos para sacar da cartola. E já agora sem as meninas à saída dos tribunais. Sem o aborto (uma causa social fracturante), o que ainda lhe resta é radicalmente pobre: a eutanásia, os casamentos dos homossexuais, a adopção pelos mesmos e talvez os charros fumados livre e impunemente nas salas de aulas (ao mesmo tempo que proíbem o cigarro em nome da higiene atmosférica e o professor em nome do ensino livre e sem barreiras). Convenhamos que não é muita coisa. Nem grande coisa. O Dr. Louçã tem legítimas razões para estar preocupado. Afinal, a partir de Fevereiro, há menos um drama no seu repertório. Ou, se preferirem, menos um número no seu eterno festival de circo. E como todos nós sabemos, em época de crise, o público não abunda.