17.3.07

Coisas do fim-de-semana

A noite é bocadinho do dia em que Terra está de costas voltada para o Sol.
Dito desta forma, até parece simples. Demasiado banal para a beleza infinita da noite, dirão vocês! Ou então, demasiado superficial, dirão outros. Principalmente para os que já pararam para ver a noite. Para os que já saíram, de propósito, de casa à noite. Para os que já esperaram pacientemente pelo cair da noite. Para os que já fizeram amor à noite, ou então, para os que pura e simplesmente já não são capazes de viver, sem ela.

A noite tem alma. É um autêntico mistério de estórias de bruxas e fantasmas, de morte e solidão. Tudo é capaz de acontecer durante a noite, quando era suposto, nada materializar-se.

Pessoalmente até gosto da noite. Tanto aprecio o sono, como o céu pintado de estrelas e a Lua a sorrir. Também gosto das nuvens, da chuva nocturna, e do vento que me sopra aos ouvidos. Mas o que me mais me fascina, é estar simultaneamente dentro e fora da noite. Misturar-me no meio da multidão e estar lúcido para a fuga. Olhá-la sentado no meu quintal, como se estivesse, no pára-peito do céu, a ver os demónios e os diabos.

À noite, tudo se faz, com a sensação de que nada se vê. É Como se a noite fosse eterna. Como se fosse possível, a um mortal como tu e eu, tapar os olhos à noite.
À noite dão-se quecas e beijos. Mete-se conversa com conhecidos e estranhos. Tudo parece ser mais fácil à noite, quando na verdade, somos muitas vezes iludidos. Deixamo-nos fascinar pelo mistério da noite. Pelo contacto fácil, de muitas criaturas noctívagas que, facilmente mudam de parceiro ou parceira, quando não de sexo. Revelam-se facetas obscuras, quando não bizarras.

À noite, é como se cada um enlouquecesse. Revelasse o verdadeiro animal que transporta dentro de si, numa infinita procura do “eu”, perdido algures no meio da multidão diurna. São situações que normalmente acontecem depois de uns cocktails de álcool. Durante a noite toma-se uns copos. Dizem-se e fazem-se loucuras que a luz do dia acaba por revelar.

De que serve então a noite; perguntam vocês?
De auxílio ao pragmatismo do dia.