Assumo-me cada vez menos como liberal. Do liberalismo à portuguesa, então, fujo a sete pés. Por isso enoja-me o discurso supostamente liberal que atribui a uma eventual esquerda inimiga da propriedade privada a crítica aos lucros formidáveis de alguns, quando a grande maioria passa por dificuldades. O argumento é velho e está gasto: é preciso produzir valor para ser redistribuído, pois não se pode distribuir o que não existe.
Ora, tudo isto estaria muito bem (e eu, por princípio, subscrevo-o), se a prática consubstanciasse a teoria. Mas a realidade é bem diferente. Exemplifico: no ano passado a banca portuguesa apresentou rendimentos fabulosos (à custa de todos nós e dos funcionários, que trabalham em média mais 30%, sem direito a qualquer hora extraordinária e com o cúmulo de se esconderem quando há alguma inspacção do trabalho) e, que se saiba e ou se tenha visto, não representou nenhuma mais-valia para todos os portugueses que não são accionistas e dirigentes. Este ano, como se perspectiva um ano difícil, já vieram a terreiro os banqueiros, com a simpatia dos comentadores especialistas em assuntos económicos e o beneplácito do governo, informar que os prejuízos serão grandes mas redistribuídos por todos: clientes e restante população (através dos regimes de excepção). Ora, com exemplos destes, como é que poderemos alguma vez confiar nas empresas portuguesas. Porra para elas e que vão morrer para longe!
É como alguém dizia: a banca é exímia em privatizar lucros e em democratizar prejuízos.
2 comentários:
O FED na terra do capitalismo está a fazer isso mesmo: privatiza os lucros e democratiza os prejuízos. Portugal está longe disso!
sem duvida............
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