"(...) Do tombadilho contemplou a cidade longamente. Impressionou-o a cidade estrelada de luzes que subiam da beira-mar até aos píncaros da montanha. A terra ia ficando para trás; a gambiarra que, a partir do cais, se estendia rente à babugem do mar e terminava na Pontinha, amortecia e mudava de perspectiva ao passo que o paquete se afastava. De repente, o cabo Garajau, como pano de boca de prescénio que baixasse, escondeu a visão maravilhosa da cidade. Então, nesse momento, Manuel sentiu que alguma coisa que lhe pertencia, que fazia parte do seu psiquismo, ficava ao abandono da sua vida de emoções. Os objectos que sua retina fixava todos os dias, a realidade visual, a terra que pisara tantos anos, as ruas que lhe haviam conhecido os passos - a ilha, o seu mundo, o alfobre das suas mais caras impressões sentimentais, sumia-se na negridão da noite; e as únicas sensações que o punham em contacto com a vida cifravam-se no ruído cavernoso da máquina do vapor e no balanço muito lento que o entontecia (...)."
Horácio Bento de Gouveia, Canga
12 comentários:
Vejo que as edições dos 500 anos já ganharam um leitor! LOL!
São 500 anos de histórias, algumas delas dignas de serem contadas. Parabéns à cidade... parabés a todos os que contribuiram para que se tivesse um Funchal como hoje conhecemos.
Cronos
Engana-se AMSF. Quem conhece o Sancho sabe-o leitor de Horácio Bento de Gouveia há muito. Aliás, o pouco que li de HBG devo-o ao Sancho.
Em relação às edições dos 500 anos, espero que ganhem muitos mais leitores. A bem das nossas gentes.
Woman
É que se ele usa-se "Ilhéus" como referencia facilmente perceberia que se tratava de um "especialista"! Para quem não sabe "Canga" já foi "Ilhéus" em 3 edições anteriores ao 25 de Abril...
Pois amsf, mas parece que o seu conhecimento fica sempre assim no superficial, não é? Assim tipo de quem trabalha com livros mas que raramente passa da contracapa. É que se você investigasse (áh, o pretérito imperfeito do conjuntivo do verbo usar escreve-se sem hífen e com dois s)um bocadito mais saberia que o que diferencia o Ilhéus do Canga não é apenas o nome, mas também alguns capítulos.
Acho-lhe piada amsf, mas não lhe reconheço qualquer capacidade critico-intelectual para questionar as minhas leituras. Ou os meus conhecimentos sobre o que quer que seja.
Já relativamente à woab, não vá por aí. Você anda a anos-luz e duvido que tenha andamento suficiente...
Caro Sancho
Vejo que além do livro propriamente dito também leu a introdução do Prof. Thierry dos Santos. Quanto ao "resto" não percebi o porquê desse azedume e dessa insinuação em relação à WOAB !!!!!!!!!???
AMSF, existe uma diferença colossal entre leitor e especialista. Em nenhum momento do meu comentário pode ler que acuso o Sancho de ser um "especialista". Para além disso, não percebo em que medida é que a utilização da nomenclatura das edições anteriores ao 25 de Abril indicia "especialidade". Quando muito denuncia o pedantismo próprio dos que cultivam os fait-divers como se de questões centrais se tratassem.
WOAB
Chamar o Sancho de "especialista" não seria uma acusação mas um elogio...se seria merecido ou não, não posso dizê-lo!
O que posso dizer é que a última reacção do Sancho foi desproporcionada! Ainda por cima deixou uma insinuação que demonstra que tem ai um amigo ciumento!
Curiosamente parece que o "saber" só é pedantismo em algumas pessoas!
O saber é uma mais valia, mas quando é uma benesse para nós próprios e não apenas para ser lançado aos outros. Repare que uma simples citação suscitou que o AMSF quisesse questionar as leituras do Sancho. E continuou, explicando doutamente que a "especialidade" dele era inócua, já que citou "Canga" e não "Ilhéus". Aqui, o "saber" é apenas uma arma de arremesso - ainda que inofensiva, convenhamos. Quando utilizei a palavra acusação, frisava apenas esse factor. De repente, um leitor tem que provar (o ter é obviamente exagerado, já que o Sancho não tem que lhe provar absolutamente nada) que é, afinal, especialista. E de repente, a leitura de um livro, a citação de um livro, resume-se a saber que o mesmo foi editado, a diferente tempo, com títulos diferentes. Tenha santa paciência - aquela que eu já não tenho.
Note bem: eu por mim, não sei absolutamente nada. Aliás, só li um dos títulos do autor, há anos, por recomendação do meu amigo ciumento.
Caro amsf,
não é azedume, é falta de paciência para as suas constantes insinuações (você já viu as que fez em apenas 4 comentários?).
Vá, fique por aqui, comente à sua vontade. Não leve é a mal que eu não lhe responda. É que me vai faltando a vontade.
Ah e para que fique claro, não sou especialista em Horácio Bento. Sou, apenas, um seu "velho" leitor a admirador da obra.
Mas poderia perfeitamente ter iniciado esta relação com o escritor nortenho agora, com as edições dos 500 anos. Porque em boa hora foi feita a aposta na edição e não apenas em espectáculos, havendo mesmo muitos livros (17, mais propriamente) que me interessa adquirir.
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