8.8.08

Sobre as declarações do Presidente da República

Diga-se com clareza: a declaração de Presidente da República sobre a proposta de revisão do Estatuto Politico-administrativo do Açores mais não revela do que um sentir anti-autonómico primário e profundamente centralista de que Cavaco Silva padece desde sempre.
Quanto às normas inconstitucionais, estamos conversados: têm que ser revistas ou então terá a Constituição que ser alvo de uma revisão.
No que toca às outras normas, aquelas a que Cavaco mostrou "sérias reservas", visto não violarem a lei fundamental, parece-me que tomada de posição do Presidente foi despropositada. Uma vez que são normas políticas, a opinião do presidente não passa disso mesmo: de uma opinião, uma vez que a Assembleia da República tem toda a legitimidade para as propor.
Mas reconhecendo-lhe o direito de fazer uma comunicação ao país sobre o que bem lhe apetecer, o que o Presidente disse tem consequências profundamente graves:
1. tendo o Estatuto sido aprovado por unanimidade, Cavaco Silva mostrou um desrespeito enorme pela Assembleia da República enquanto órgão de soberania, uma vez que levanta suspeitas sobre a sua legitimidade para propor um aprofundamento da autonomia dos Açores dentro do quadro legal.
2. Cavaco contribuiu para a emergência do fantasma independentista, visto a gravidade com que fez a sua comunicação ter provocado na população portuguesa continental uma desconfiança sobre o modelo de autonomia progressiva e, em última análise, sobre as próprias autonomias.
Se a primeira consequência pode ser minimizada caso os partidos políticos com assento parlamentar não empolem a questão, a segunda terá repercussões bem mais graves pois desperta o sentimento anti-autonómico, baseado no desconhecimento e ignorância do que a população portuguesa continental sofre relativamente às autonomias. Apesar dos discursos, a verdade é que falando com o português continental mediano (e mesmo com aqueles melhor informados) apercebemo-nos de que a autonomia conquistada pelos povos ilhéus não é bem aceite. Aliás, basta vermos as reacções favoráveis que provocaram e de onde vieram. E se passados 30 anos já ninguém levava a sério as ameaças de separatismo, quer vindas das regiões autónomas, quer vindas de outros centros de poder, a verdade é aquela declaração reacendeu a suspeição, que nada beneficia a unidade nacional, podendo mesmo constituir-se como um motivo de cisma entre a população continental e os povos ilhéus.
Assim sendo, o Presidente da República, atendendo mais às suas crenças pessoais - anti-autonómicas e ainda mais antagónicas relativamente ao conceito de autonomia progressiva instituído na última revisão constitucional - do que ao interesse da Nação, prestou, uma vez mais, um péssimo serviço ao país.

PS - Veremos se o Presidente estará tão atento e manterá "sérias reservas" a alterações de paradigma político propostas por futuras leis da República.

9 comentários:

amsf disse...

Aquela comunicação foi apenas um aviso para evitar precedentes...foi nomeadamente um aviso ao AJJ. Foi um chamar de atenção à "criança" para avisar o "adulto"!

Anónimo disse...

Ainda bem que não foi o PS-M que pediu aos madeirenses para eleger o Cavaco. Quem o pediu foram os "autonomistas" do PSD-M.

José Luís Gonçalves Rocha disse...

Nasceu mais um blog madeirense: Madeira Sem Amos em http://madeira-sem-amos.blogspot.com

Anónimo disse...

então o mais leal socialista, que também já foi asesor do Trindade agora juntou-se ao PND?

Ou foi só a titulo de emprestimo?

Grande Emanuel Bento.

http://pravdailheu.blogs.sapo.pt/139203.html

José Luís Gonçalves Rocha disse...

Leiam só este post (http://madeira-sem-amos.blogspot.com/2008/08/asceno-e-queda-meterica-de-um-vira.html) e vejam as contradições dos "amigos" do PND. E viva o Pravda-Ilheu...

José Leite disse...

Cavaco Silva foi apenas inoportuno. Terá as suas razões mas não era altura para as apresentar. o local também não foi o mais apropriado...

José Leite disse...

Cavaco Silva foi apenas inoportuno. Terá as suas razões mas não era altura para as apresentar. o local também não foi o mais apropriado...

Sancho Gomes disse...

amsf,

parece que não é apenas o Jardim que acha que é o centro do mundo. Você(s) também parece(m) achar que tudo roda em volta do umbigo do AJJ.
Então, na atitude de Cavaco não vê nenhum aviso à navegação socialista???

amsf disse...

Mas não é Jardim o centro do mundo!? Olhe que eu estava convencido que sim! Nem o baptismo do campo dos Barreiros se ele é capaz de delegar!