Ao contrário do que defendem alguns, a grande riqueza do PSD é o facto de acolher no seu seio diferentes correntes ideológicas: a social-democrata; a liberal, a conservadora; a democrata-cristã e até mesmo uma mais neo-liberal. Populismo não é uma matriz ideológica: é uma estratégia (que, aliás, Sócrates começa a aderir, conforme se comprova por aquele patético anúncio de que iria deixar de fumar), que socorre duas candidaturas: a de Pedro Passos Coelho e a de Santana Lopes (para falar apenas nas três que realmente contam), sendo que a santanista é marcadamente mais populista.
Por isso, nem vejo a balcanização (ideológica) do partido, nem vejo como isso poderia ser prejudicial. O CDS/PP defende a existência de correntes ideológicas diversas, princípio com o qual concordo e através do qual os populares pretendem crescer (à sombra do PSD). Não vejo, portanto, grandes problemas por não haver candidaturas sebastianicas que alegadamente reunificariam ideologicamente o partido, uma vez que não há uma matriz que tenha de ser reunificada. Oxalá todas as correntes estivessem, efectivamente, representadas nestas eleições.
Posto isto, apenas houve um líder verdadeiramente social-democrata (entendo-se, aqui, a social-democracia alemã): Sá Carneiro, do qual nenhuma destas candidaturas é herdeira e que suspeito ser bastante residual no PSD de hoje.
De um ponto de vista ideológico, nestas eleições apenas foram apresentadas candidaturas liberais, sendo que uma é um pouco mais conservadora do que as outras.
Assim sendo, não me revejo ideologicamente em nenhuma delas. Mas, se tivesse de votar, teria que escolher entre o que se nos é apresentado, o que, inevitavelmente, me obrigaria a optar. E se fosse este o caso, a minha opção passaria por Manuela Ferreira Leite.
Deixo aqui a minha razão, porque resume-se apenas a uma: a próxima liderança do PSD tem de, se não derrotar o PS, pelo menos retirar-lhe a maioria absoluta, recuperando algum do eleitorado do tal centrão decisivo. E, na minha opinião, tal só é possível com Manuela Ferreira Leite.
Comecemos por Santana Lopes: é certo que mais do que o conjunto de equívocos que foi o seu governo, foi-lhe feita a cama. Muito do que já assistimos com Sócrates teria sido motivo para sucessivas dissoluções da Assembleia da República. Por outro lado, até tem sido um bom líder parlamentar. Estas duas razões contribuem, portanto, para reunir algum capital de simpatia por parte de alguns militantes. Poderia ganhar o partido, mas não ganharia o país, uma vez que lhe falta credibilidade e apoio entre os opinion makers (e sabemos o quanto são fundamentais). Seria uma candidatura derrotada à partida e não me parece que tenha possibilidade de vencer o partido, porque os militantes querem um líder para se bater com Sócrates e não acreditam que Santana seja o tal.
Já Pedro Passos Coelho é um político com algum potencial (não queiram fazer dele um Príncipe) e que neste momento corre o risco de vencer estas eleições. Tem reunido imensos apoios, não pelo que vale, mas porque é a alternativa a Ferreira Leite e a Santana Lopes. Quem tem contas a acertar com um dos dois, opta por Passos Coelho. Mais, se fosse eleito, teria algumas possibilidades de reunir simpatias do centro-esquerda, dadas as suas posições progressistas nas tais questões sociais fracturantes. A sua candidatura tem tentado investir na alegada falta de experiência, apostando na imagem de outsider, que poderia contribuir para recolher apoio dos insatisfeitos com o sistema e a classe política. Não é, como todos sabemos: é um político profissional e isso seria devidamente explorado pelo PS. Para além disso, é algo incerto: ninguém sabe o que vale nas urnas e essa incerteza será mortal.
Temos, por fim, Manuela Ferreira Leite: tem a seu favor a imagem de rigor e austeridade, tão ao agrado dos opinion makers e dos próprios portugueses. Tem, também, experiência governativa, domina os assuntos económicos (e sabemos que hoje as eleições ganham-se com linguagem económica e não política) e é a preferida pelos barões (só o facto de ter o apoio de Miguel Veiga deveria ser motivo para eu distanciar-me o mais possível, mas nem sempre podemos ser coerentes...). Assim sendo, é aquela que reúne melhores condições para se bater com Sócrates em eleições, havendo mesmo a possibilidade de vencê-lo. Contribui para o meu apoio, ter começado a estruturar uma aproximação à matriz social-democrata, com laivos de um certo conservadorismo político-social. Começo a gostar do seu discurso e do seu programa.
E tendo possibilidade de vencer as eleições, acho que não conseguirá vencê-las por maioria absoluta, o que também é um ponto a seu favor (poderia ter tendência para o absolutismo que vimos em Sócrates e com tão maus resultados).
Por fim, acho que seria importante para a política portuguesa e mesmo para o PSD haver uma mulher líder, facto que, para além de valer por si, poderia mesmo reunir apoios insuspeitos.
Após tudo isto, volto ao início: tenho pena que não se tenham apresentado alguns outros bons candidatos, com proveniência noutras correntes ideológicas, mas percebo as suas razões.
Espero, contudo, que destas eleições surja uma candidatura forte, capaz de se bater com Sócrates e com um projecto para o país (uma ideia de país, conforme costumo dizer) que reúna contributos em todas as matrizes ideológicas, que constituem, afinal, toda a riqueza do PSD e podem ser a riqueza de um projecto político de governação.
10 comentários:
Um líder morto é um bom líder (Kennedy, Sá Carneiro, etc)!
As eleições não se ganham com linguagem económica ou política mas com jogos de linguagem!
Sinceramente acho que o Pedro Passos Coelho consegue mais votos numas eleições contra o Sócrates e acredite... A Manuela não tem perfil para líder do PSD, porque será só um líder até às eleições. Ela irá sair derrotada e o PS continuará com a maioria... E pior que tudo... O PCP e Bloco de Esquerda irão crescer...
O Passos Coelho parece-me a pessoa indicada para dirigir o PSD!
BBS,
espero bem que o PCP e o BE cresçam eleitoralmente, roubando assim algum eleitorado ao PS, até porque esse é um eleitorado que jamais voatará no PSD. A aposta tem de ser no centrão democrático e a Manuela é a mais consensual...
Baby Boy
Se achas que a Manuela Ferreira Leite é o pior candidato para liderar o PSD deves apoiá-la pois é intenção do AJJ derrubar o "seu" futuro líder para que ele se possa apresentar como o salvador do partido a tempo de ganhar a presidência e enfrentar o Sócrates!
Nada disso!
Eu quero o melhor para o PSD e já que não pode ser o Alberto João, que seja o Pedro Passos Coelho!
O partido não pode andar sempre a mudar... Se perder que venha em 2009!
Por alguns motivos que mencionaste (não digo todos, é óbvio), eu também acho que Manuela Ferreira Leite é a melhor candidata até ao momente.
Já estamos a precisar de alguma seriedade na política portuguesa. Basta de tanto chorar de rir:((
digo momento.
Este post, cujo conteúdo é razoável e aceitável, omite apenas um aspecto fundamental: o de que o PSD acabou.
Precisamente pelo facto de nele caberem todos (independentemente das respectivas convicções ideológicas), todos se acham no direito de integrar as clientelas dos partido e os seus líderes, de distribuir favores às suas clientelas. Isto é sempre o começo do fim.
Acho graça que o sancho - funcionário outrora dos ramos - e outros comentadores habituais assumam o seu psdísmo militante. Eu não sou do PSD mas acho sinceramente para trazer mais nível dignidade e concorrência ao debate político que a MFL ganhe as eleições.
Zé Kalanga
Funes, reconheço que o PSD cede e serve demasiadas vezes à sua clientela: mas se isso fosse motivo para acabar, há já muito que não havia PS.
Zé Kalanga: pelos vistos sabe mais de mim do que eu de você. Não percebo é onde encontra a graça. No facto de eu ter opinião?
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