4.9.09

Liberdade de expressão

Eu não gosto do estilo de Manuela Moura Guedes. Nem da informação da TVI. Mas estas permissas não me levariam, em circunstância alguma, a querer ver suspenso o serviço noticioso apresentado, semanalmente, por Guedes.

Ao contrário daquilo que defendem alguns comentadores anónimos que por cá pululam, não me parece que deve ser o poder político ou económico a definir aquilo que é bom, ou mau, jornalismo. Essa definção compete, pura e simplesmente, aos cidadãos. Todos os dados conhecidos revelam que o Jornal Nacional da TVI emitido à sexta-feira era o espaço noticioso mais visto no país, ou seja, era avalizado pelo público.

O cancelamento do programa não é, por isso, uma decisão "de gestão empresarial", como alguns tentam fazer crer, porque do ponto de vista de gestão empresarial não faz qualquer sentido. Curiosamente, é o próprio Sócrates a admiti-lo quando, "atropelando" o ministro com a tutela, Augusto Santos Silva, diz querer a situação clarificada. Ora nenhum primeiro-ministro, em circunstâncias normais, apela a uma empresa privada para que clarifique uma qualquer decisão de gestão, a não ser que a mesma tenha impactos económicos e sociais significativos.

Não tendo sido uma decisão motivada por interesses empresariais imediatos, pode assumir-se então que foi tomada por interesses políticos e económicos mais alargados.

E é esse o cerne da discussão. A liberdade de expressão foi condicionada pelas altas esferas do poder político e económico. Só que desta vez não se tratou da habitual pressão para que uma determinada peça não seja emitida, ou para que um qualquer assunto seja abordado de uma maneira mais, ou menos, favorável - situação já de si condenável e atentatória do direito à informação.

Parece-me claro que os maiores interessados na matéria são o PS e José Sócrates. A linha editorial do Jornal Nacional era claramente marcada por uma feroz oposição ao poder (no sentido lato do termo) e, durante meses, o primeiro-ministro e o Governo não foram poupados.

A estratégia seguida pelos socialistas foi esta: é melhor causar ondas de choque agora, a três semanas das eleições, do que esperar que, semanalmente, o Governo e a candidatura do PS sejam desgastados por notícias que condicionariam, obviamente, o debate político e o curso da campanha eleitoral. Como defendia Maquiavel, o mal foi feito de uma vez.

Sócrates calculou mal a intensidade da "onda de choque" que provocou, pois a ser bem aproveitado pela oposição o tema marcará a campanha eleitoral e contribuirá para minar a já depauperada credibilidade do primeiro-ministro e candidato do PS. Foi um erro de cáculo...

Como se sabe, o Grupo Prisa tem fortes ligações ao PSOE, do "amigo" Zapatero. Como se sabe, a área dos media e das comunicações está em constante mutação, surgindo oportunidades de negócio quase diárias. Um Governo "amigo" facilita certamente a pressecução de alguns desses negócios.

Se Sócrates ganhar as eleições ver-se-á, na próxima legislatura, quais são os negócios em que os grupos Prisa e Media Capital entrarão. E de que forma entrarão. Eu tenho os meus palpites...

O certo é que, mais uma vez, o poder político, aliado ao poder económico, violentaram a liberdade de expressão e o direito à informação. Eu não hesito em atribuir esse ónus a Sócrates.

Post-Scriptum: A posição de alguns jornalistas da Madeira face a este tema é, no mínimo, curiosa: definem como normal aquilo que se passou, dizem que o caso levantado assume laivos de hipocrisia e avançam com a ideia peregrina de que o Jornal Nacional não tinha padrões de qualidade e de credibilidade, esquecendo-se de que o os cidadãos são, e devem ser, os juizes da questão.

São opiniões e devem ser respeitadas como tal. Mas manter-se-ão quando as lutas locais de reacenderem?

1 comentário:

Anónimo disse...

sub-escrevo na integra o que escreveu o Gonçalo.

É óbvio que existe mão do Governo PS na decisão tomda pela administração da empresa. Pior do que isso. Interferiu na direcção de informação da TVI......

Angelino Câmara