27.10.09

Liberdades individuais vs saúde da população

Há uns meses atrás, o Portugal gay e o Portugal politicamente correcto ficaram ofendidíssimos quando o presidente do Instituto do Sangue defendeu a exclusão dos homossexuais da dádiva de sangue. Na opinião de Gabriel Olim, esta exclusão justificar-se-ia pelo facto dos “homens que têm sexo com homens terem, geralmente, uma prevalência da infecção maior”. Infecção de HIV, leia-se.
Logo apareceram os do costume a acusarem o Instituto de promover práticas discriminatórias, alegando que hoje “já não existem grupos de risco”. Ora, numa atitude profundamente demagógica, preferiam perpetuar um procedimento de risco, ao invés de assumir uma atitude defensiva e preventiva. Na mente destes senhores, era mais importante garantir os “direitos” dos homossexuais, do que privilegiar a integridade do banco de sangue nacional. Em troca de uma alegada defesa das liberdades individuais de uns poucos, ponha-se em causa a saúde de milhões.
Não sei se os que defendiam a tese da discriminação eram possuidores de toda a informação científica até então ao dispor. Mas a verdade é que passados apenas um par de meses, vem a epidemiologista Teresa Paixão alertar para o crescimento da infecção de HIV entre os homossexuais. De acordo com a investigadora, este é um dos “grupos vulneráveis” o que, na minha interpretação, significa dizer que são um grupo de risco.
Por norma e por princípio, tenho como axioma ético opor-me a qualquer forma de proselitismo. Contudo, como qualquer pessoa, também eu tenho estabelecida uma hierarquia de valores, que parte de um(s) imperativo(s) categórico(s), onde a vida e a saúde da maioria está antes dos direitos e liberdades individuais. Portanto, também sou apologista que havendo evidências de que se mantêm “grupos de risco”, como parece vir defender a médica, devem as instituições públicas intervir no sentido de minimizarem os riscos para a população. E, em minha opinião, foi isso que se limitou a fazer Gabriel Olim.
Mas isto levanta ainda uma outra questão que é para mim relevante: alguns movimentos cívicos portugueses têm vindo a assumir posições aparentemente progressistas relativamente a uma série de questões (que alguém colocou na ordem do dia). E quando alguém ousa questionar a eficácia destas posições, aqui d’el rei, que se está a ser sectário, que é-se retrógrado, entre muitos outros mimos com que se é distinguido. Este caso revela como por vezes essas atitudes ditas progressistas são imprudentes e questionáveis moralmente. Porque no alto da sua arrogância, esta pseudo-intelectualidade urbana não consegue ver que a defesa de valores tradicionais pode ter como único objectivo a defesa de outros direitos comuns, bem acima, numa escala de valor, do que algumas pequenas liberdades individuais, que mais não servem do que para afagar o nosso egozinho!

8 comentários:

Anónimo disse...

Pois, é.

É por isso que o Papa é contra o uso de preservativo. E faz muito bem!

ah e as prostitutas levam mais ao cliente para fazer sem preservativo!

E por isso é que o HIV é em percentagem muito superior em heterossexuais do que em homossexuais.

Já agora, eu também sou contra o pretos darem sangue. É que há muita SIDA em África.

Ah, e não sou homossexual

Woman Once a Bird disse...

Porque focas apenas a informação sobre a homossexualidade? Segundo o artigo, os números também são significativos no cado das mulheres com mais de 50 anos. A ligação da afirmação de Tesa Paixão com a questão dos/das dadores/as de sangue é tua, não da epidemologista.

A minha questão continua a ser a mesma: então não se efectuam análises a cada dador/a, independentemente do facto de se dizer/parecer saudável? Assim sendo, em que é importante esta designação de grupos de risco,?

Sancho Gomes disse...

woab: tens razão, ela não focava apenas os homossexuais. eu falei neles, apenas devido à polémica que houve há uns tempos.
quanto às análises, minha cara, tem apenas a ver com avaliação de risco potencial. e se há uma prevalência maior de infecções, há um risco potencial maior. eu também não posso dar sangue, pelo motivos que conheces e isso não faz de mim um discriminado.
a treta do preconceito é apenas uma mania de perseguição.

anónimo: você limita-se a repetir clichés politicamente correctos que são contraditos pelos estudos científicos.

Woman Once a Bird disse...

Sancho, a questão é que o comportamento de risco não é exclusivo dos homossexuais. E se no momento assim não o é, até há bem pouco o hiv crescia assustadoramente no caso dos heterossexuais. Mas nem por isso esse tipo de restrição foi ponderado; nem tão pouco é-o agora em relação às mulheres de mais de 50 anos. aliás, o artigo refere que são os homens homossexuais que tendem a ter comportamentos de risco, mas nem por isso as lésbicas deixam de ser consideradas nessa decisão "fundamentada" única e exclusivamente em razões de saúde pública. Pois...

Sancho Gomes disse...

woab

e honestamente preferes a explicação que o MS e o Instituto de Sangue andam a promover atitudes discriminatórias? por amor da tua Ceridwen...

Woman Once a Bird disse...

Honestamente é o que parece, quando um Instituto que se diz científico apresenta argumentos como os que evocas.

Sancho Gomes disse...

O instituto não se diz científico, é-o. E não me parece justo acusar um instituto que salva milhares de vidas anualmente de pouco rigoroso. Falta de rigor terão aqueles que por uma questão de parecer bem ousam colocar em risco a vida dos outros!

Woman Once a Bird disse...

O instituto causa-me perplexidade quando apresenta critérios mal explicados. Sancho, não é este meramente um exercício de teimosia tua, perante uma clara e vergonhosa duplicidade de critérios de uma instituição que, repito, deve ser científica? Ou não é legítimo perguntar por que uns "grupos de risco" são mais perigosos que outros? Diz-me, confias na maior parte dos heterossexuais que conheces, apenas porque são heterossexuais?