6.11.09

O que esperar das condidaturas às liderança do PS/Madeira

Depois de uma fase mais encarniçada, parece que as hostes de Jacinto Serrão e Victor Freitas acalmaram. Agora querem, dizem, discutir política.
Ora, a mim parece-me muito bem. É tempo de pacificar o (ainda) maior partido da oposição e esquecer o passado de ofensas, irresponsabilidade, purgas e perseguições (Paulo Barata dixit).
Sobre a perversidade dos discursos acirrados de outrora, está tudo dito. Aquilo foi pior que briga de cães – que tentam agora travestir de debate democrático.
Importaria, talvez, analisarmos os perfis de cada um dos candidatos, tentando descortinar o que poderão trazer para o debate político madeirense.
Comecemos por Victor Freitas, o mais que provável futuro líder (não tenhamos ilusões: se a eleição corresponder aos desejos das bases, Jacinto Serrão não tem hipótese).
A sua eleição poderá iniciar uma etapa de actividade política marcada pelo profissionalismo. Victor Freitas é um dos poucos socialistas madeirenses que nunca fizeram nada na sua vida a não ser política, sendo um profissional dela. Ora, como nunca teve de pensar em mais nada a não ser em política, é natural que nesta etapa (de liderança) empreste esse profissionalismo à sua actividade. Será, portanto, uma liderança fortemente marcada por questões meramente políticas, não sendo de estranhar que uma das primeiras medidas seja a proposta para alteração da lei eleitoral. Aliás, é expectável que o Victor apresente muitas outras propostas que visem revolucionar o sistema político regional, porque é nisso que ele é especialista. Todas elas terão, obviamente, o objectivo de fazer desequilibrar o sistema com vista a beneficiar o PS em futuros actos eleitorais. Não me espantaria mesmo que Victor Freitas ofereça ao PSD presentes envenenados, armadilhando aparentes boas propostas. Com a sua liderança, o PSD terá de estar atento porque a sua escalada vertiginosa no PS mostrou que ele sabe como chegar ao poder.
Por outro lado, o Victor, pelo poder que conseguiu acumular dentro do PS-Madeira, tem a qualidade única de encostar à parede qualquer voz dissonante, pelo que se torna plausível que pulverize qualquer oposição interna que possa vir a ser ensaiada. A sua liderança será incontestável e nem mesmo aqueles que outrora o adjectivaram de “vilhão” do Norte se atreverão (aliás, como nunca o fizeram abertamente) a desafiá-lo.
Com o que podem contar os madeirenses? Com uma oposição sem tréguas, provida de um discurso combativo e hostil, que tentará fazer do debate político um palco de denúncia das eventuais ilicitudes do PSD.
Já quanto a Jacinto Serrão, digamo-lo com clareza: não trará nada de novo. Fruto de alguma inconsistência, liderará o PS num percurso errático, como foi a sua imagem de marca da última vez que passou pela liderança do PS-Madeira. Jacinto Serrão, com todas suas trapalhadas, como o imbróglio da LFR, ou a fuga para Lisboa, não granjeou qualquer credibilidade ou simpatia por parte dos madeirenses e a sua eleição seria uma má notícia para o partido. E esta fragilização do PS também não seria positiva para a Madeira.
O que estranho na sua candidatura é a absoluta miopia política: será que Serrão espera mesmo que as suas trapalhadas tenham sido esquecidas, ou que a miserável submissão a que submeteu o PS-Madeira aos desmandos de Sócrates (cá, como lá, isto é, na Assembleia da República) não venham a ter consequências no eleitorado? Acreditará mesmo que reúne condições para ser um líder político na Madeira, nos próximos anos?
Por tudo isto, parece-me que o congresso terá sentido único.
O que não deixa de ser uma novidade é que após anos a manipular as lideranças do PS-Madeira, Victor finalmente decida avançar. Com a travessia do deserto que impôs ao PS, nomeadamente com os líderes que colocou à frente do partido (desde José António Cardoso, passando pelo próprio Serrão e até por Gouveia), Victor Freitas foi afastando os “barões” e putativos candidatos à liderança do PS, solidificando a sua posição dominante. Foi tão bem sucedido que neste momento apenas Bernardo Trindade tem estatuto suficiente para o enfrentar. O que, naturalmente, não irá acontecer. Não enquanto Jardim estiver no poder.

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