30.3.11

Ternura

A partir de agora, a minha leitura matinal será o Jornal da Madeira. Ler o JM é uma injecção de moral. No JM não há crise. O JM continua a anunciar estradas novas como se tudo fosse como antes. O JM descobriu que o Aeroporto da Madeira, terra de firmeza democrática, de resistência contra o fascismo, é o melhor do mundo. O JM anunciou que a Casa do Povo de S. Roque do Faial vai ter uma sala de informática. Apesar dos anúncios das penhoras das Finanças, que o JM publica diariamente, o JM garante que nada muda e que por isso nada de mal nos pode acontecer, talvez porque o próprio JM não deixe. No fundo, as páginas do JM são como belas flores brancas que se reflectem contra o azul pálido de um céu inocentemente primaveril. Uma imagem terna e reconfortante.

25.3.11

1º Festival Literário da Madeira

O 1º Festival Literário da Madeira decorre no Funchal de 1 a 3 de Abril, organização conjunta da Booktailors - consultores editoriais e da editora Nova Delphi. O programa do primeiro dia é reservado a algumas escolas da Madeira e o restante programa decorre no Hotel Meliã Madeira Mare e tem entrada livre. Mas que melhor introdução do que este excelente vídeo?




O festival tem página no Facebook, com novidades e informações úteis, aqui.

23.2.11

Até sempre.

A minha participação neste blogue termina hoje porque decidi, entre várias outras coisas, iniciar um outro projecto a título pessoal. Agradeço a todos os que me acompanharam apesar da minha grande irregularidade na elaboração de textos. Acreditem que escrever nem sempre é fácil.

Ao Gonçalo, um obrigado especial por um dia me ter endereçado o convite. Espero de alguma maneira ter correspondido às suas expectativas.

Aos que ficam, deixo votos de muitas felicidades e que consigam manter o projecto dentro de uma qualidade aceitável e com uma maior regularidade que é, no fundo, o que dá vida a isto.

Eu vou continuar por estas andanças, mas agora apenas por outras bandas.

Mantenho-me na Liga Bolo do Caco e no meu novo projecto a solo: O Homem do Castelo Alto.

Até sempre.

Bruno Macedo

21.2.11

Idiossincrasias

Até que ponto a "abertura ao próximo" cristã não é, já, a marca indelével do Outro em mim, de Levinas?
A abertura ao próximo, porque ferida no meu corpo, é um ousado ataque ético "ao imperialismo do mesmo".
Teria sido Levinas um cristão?

Diz-me com quem andas...

Então, senhor primeiro-ministro, não quer dar uma mãozinha ao seu amigo Kadafi? É deixá-lo acampar junto aos Jerónimos, para a partir de Portugal ordenar o massacre dos manifestantes...


Quando vos quiserem falar em "real politik" com ditadores, podem vomitar-lhes em cima!

19.2.11

Aterro do Funchal

Não sei se há negociata no projecto de arquitectura e engenharia para o aterro.
Nem sequer sei se é um bom ou mau projecto.
Se me perguntarem, não me parece lá muito boa ideia transformar toda a baía do Funchal num gigantesco porto. O Funchal e a sua baía são infinitamente mais, apesar da importância do mercado de cruzeiros.
Mas isto, é apenas um ponto de vista estético. O que me preocupa, contudo, não é o meu gosto. Ou o mau gosto! O que me preocupa é o histórico de obras feitas na orla costeira madeirense. E de novo, não é o mau gosto de algumas intervenções (Ponta Gorda, por exemplo). É o desgosto que algumas obras nos provocam, como a Marina do Lugar de Baixo. Quem projecta uma obra tão mal feita, não merece crédito para outras obras com esta magnitude. Ainda para mais, quando não se assacou qualquer responsabilidade técnica e/ou política.
Posto isto, tenho muito receio que a obra projectada para o aterro (ou pelo menos anunciada) não venha a ser muito bem estudada de num ponto de vista técnico e científico. É que está muito em jogo, a começar pela vida dos munícipes funchalenses.
Não, não acho que se deva fazer referendos. O que a sociedade e as plataformas de cidadãos devem fazer é exigir à administração o cumprimento rigoroso de legislação, garantindo todos os estudos necessários a uma infra-estrutura com esta dimensão.
Se for para construir, é de mau gosto, mas estou disposto a aceitar. Mas ao menos que se faça bem feito!

17.2.11

Louçã amigo de Sócrates ou o início do partido da bicicleta?

Como já disse, qualquer oportunidade para fazer esse exercício de higiene pública que seria atirar com Sócrates para o debaixo da pedra de onde nunca deveria ter rastejado, é de aproveitar.

Por isso, a moção do BE é uma oportunidade perdida para os que verdadeiramente gostariam de ver na liderança do país mais do que um bando de indivíduos pouco recomendáveis.

Não é esse, contudo, o desejo de Louçã. Com a estultícia justificação da moção, Louçã provou que pretende ver Sócrates mais uns anos no poder, fazendo-nos duvidar da veracidade da indignação com que se nos aparece diariamente, quando fala nas trafulhices dos poderes político e económico.

Em primeiro lugar, porque convidou o PSD a votar contra quando afirmou que censurava também este partido e depois e, talvez, mais grave, porque pôs o país a falar de tontices, desviando a atenção das greves e contestação social que marcam a semana (ninguém fala na greve da CP, por exemplo). Prestou um péssimo serviço à esquerda de que se diz paladino e não sei se não iniciou a decadência do BE. Porque a verdade é que ninguém acredita que Louçã tivesse sido apenas ingénuo ou voluntarioso.

PS - Estou certo que a esquerda de luta não perdoará Louçã. Teremos partido da bicicleta?

11.2.11

Estabilidade para quê?

Tenho acompanhado divertido a forma mais ou menos esganiçada com que os comentadores do costume, mais a blogosfera socialista, têm analisado o anúncio da moção de censura feito por Louçã.

Os socialistas anunciam pragas terríveis para Portugal caso a estabilidade política seja posta em causa, como se a sacrossanta estabilidade fosse um valor em si mesmo (lembrem-se de Salazar, de Mubarak, de Fidel, de Chávez, entre tantos outros que se perpetuariam no poder).
Ora, a estabilidade política só é benéfica se houver um governo credível e competente, liderado por alguém cuja probidade não seja questionável.
Não é, manifestamente o caso do governo socialista e muito menos de José Sócrates.
Por isso, o que os socialistas chamam de estabilidade, mais não é do que o banho-maria que vai cozinhando Portugal e o futuro dos portugueses. Esta estabilidade que nos apodrece não é necessária nem nos faz bem.
É, portanto, necessário que haja instabilidade que faça ruir este governo.
Em meu entender, o único motivo que deverá fazer recuar o PSD na censura o governo poderá ser a possibilidade de não se conseguir eliminar do espectro político essa figurinha miserável que dá pelo nome de Sócrates. Em qualquer outro cenário, seria fundamental a aprovação da moção, mesmo que impregnada de máximas ideológicas.

10.2.11

Como mudando é possível mantermo-nos fiéis.

“… [a] língua portuguesa, sendo já africana na sua matriz, pelo demorado convívio com o árabe, que muito a contaminou, necessita de enegrecer ainda mais, afeiçoando-se à geografia dos lugares onde estão os seus abundosos falantes.”


José Eduardo Agualusa, Milagrário Pessoal


Oponho-me ao Acordo Ortográfico desde o início.
O meu entendimento é que havia uma submissão aos interesses do Brasil e da indústria livreira brasileira, sem que tivesse havido um acautelamento dos interesses do português falado na Europa.
Não obstante, entendia então, como entendo agora, que é fundamental uma aproximação dos vários “português”, de modo a evitar o aparecimento de uma nova língua (ou mais) com base no português (com riscos geopolíticos inerentes, como alguns dos países da CPLP deixarem de falar português ou da nossa língua deixar de ser idioma oficial da ONU, substituído por uma eventual língua “brasileira”).
Contudo, a minha opinião tem vindo a evoluir e quer me parecer que a minha resistência tinha a haver com questões estéticas e até (porque não assumi-lo?) xenófobas.
Sim, é verdade que ato, ação, fato, ator, espetáculo, para (de pára) são grafias que continuam a incomodar-me. Contudo, não me parece que a língua portuguesa (falada na Europa) perca assim tanto com esta evolução, ou que, de repente, deixemos de nos entender devido às alterações introduzidas.

Qualquer evolução de uma língua provoca resistências. Porque a língua, como a conhecemos desde sempre, embala-nos, é a nossa zona de conforto. Mas não é menos verdade que as mudanças que as línguas sofrem têm vindo, quase sempre, a constituir-se como progressos.
O caso do português é paradigmático. Imagine-se o assombro com que o erudito português terá olhado para o fim dos ph.
Ou pior, com a entrada na língua portuguesa de palavras como pitanga, ou maracujá, caipira, caboclo, jacarandá, Ipiranga – do grito, meu Deus! - (provenientes do tupi), ou abacate (castelhano), manga (índia), oxalá (árabe), batuque, cachimbo, cacimba, pipoca – a minha! – ,caçula, (africano)…
É que gosto demasiado destas palavras para não reconhecer o enriquecimento que elas vieram trazer ao português da Europa. Foram contributos dos diversos povos que falam o português que enriqueceram a nossa língua.
Por isso, parece-me de elementar justiça e até natural e normal que devamos aceitar também as evoluções que o português sofreu nesses países, por esses povos falantes e amantes da língua portuguesa.
Não é justo que a evolução de uma língua seja determinada por uns míseros 10 milhões de pessoas, quando o universo de falantes é de 220 milhões (menos de 5%), ou por apenas um país. Porque a verdade é que a língua portuguesa não é apenas património de Portugal, mas de todos os países e povos que a assumiram como sua. Não é mais dono da língua um minhoto, ou um portuense, ou um conimbricense, ou um alentejano, ou um madeirense, do que um cabo-verdiano, ou um moçambicano ou um brasileiro. É um património de todos, mas não é prerrogativa de qualquer um.
Por outro lado, há algumas curiosidades que podem ser atestadas por qualquer linguista e que até são engraçadas: por norma, são mais conservadores os que estão na periferia do que os que estão no centro, o que significa que o português que se fala em Portugal tem sofrido mais alterações do que aquele que se fala fora de Portugal. Exemplos? O gerúndio, que praticamente não é utilizado na Europa, mas continua a ser uma forma verbal corrente fora do Velho Continente.
Ora, isto levou a situações engraçadas: os portugueses enchem a boa para afirmarem-se herdeiros da língua de Camões, quando o pronúncia do português que se falava à época do poeta talvez fosse mais próxima do português brasileiro do que do português actual. Tomemos por exemplo a palavra esperança: somente no português do Brasil é que conseguimos pronunciar a palavra correctamente (em Portugal pronuncia-se esp’rança). Já viram as complicações da métrica para os sonetos de Camões?

4.2.11

Voarei sobre as vossas cabeças, como uma águia...

Agora, como há 1500 anos, hordas de vândalos do norte avançam sobre a águia imperial.

Zorrinho: roubar aos pobres para dar aos políticos

Carlos Zorrinho afirmou, na sua página de Facebook, concordar com a redução do n.º de deputados, desde que seja criado um gabinete de apoio no círculo e a remuneração seja adequada.
Ou seja, a pessoa aceita encontrar menos deputados nos Passos Perdidos, desde que a verba poupada seja utilizada em tachos locais e com mais mordomias para os senhores eleitos.
Ora, a ideia de Zorrinho não só revela uma chico-espertice saloia, como é absolutamente imoral, num momento que que o governo que integra aplica o garrote ao povo português que dá pelo nome de "medidas de austeridade".
Tenha vergonha, homem(zinho)...

2.2.11

A propósito da candidatura de Braz da Silva

Os erros de gestão desportiva de JEB são tão óbvios e absurdos que não lembram ao "Barbas", o que fará a alguém minimamente inteligente. Vender o Moutinho e o Liedson, deixando uma equipa que quer ganhar qualquer coisa (uma tacinha que seja) entregue aos postiga's e djaló's deste mundo é de um ridículo atroz e doloroso. A óbvia incapacidade de conciliar uma boa gestão desportiva e uma boa estratégia de comunicação (que, num clube de futebol, são sempre baseadas na emoção) com uma estratégia financeira eficaz é a marca de quase todos os últimos presidentes do Sporting, com excepção de Dias da Cunha. Essa incapacidade, prolongando-se no tempo, destruirá o clube, desportiva e financeiramente, porque quer se queira quer não, sem golos não há bifanas, muito menos lagosta. O próximo presidente do SCP tem obrigatoriamente de fazer sonhar os sócios e adeptos, construindo uma equipa competitiva, embora sem entrar em loucuras que depauperem ainda mais os exíguos cofres leoninos. Para isso, tem de ser inteligente e conhecer (ou rodear-se de alguém que conheça) os mercados de jogadores. Tem de inverter o discurso, vendendo sonhos realizáveis, o que é diferente de vender castelos no ar. Será Braz da Silva capaz de o fazer? Se for, bem vindo seja.

25.1.11

O "partido do Coelho"

A votação “no Coelho”, nas presidenciais de domingo, leva a duas ou três conclusões:
- A ideia de que quem “vota no Coelho nunca votaria no PSD” caiu por terra com estrondo, já que muitos dos mais de 45.000 votos no candidato apoiado pelo PND não resultaram apenas da transferência de eleitores que tradicionalmente votam na oposição. A votação parece, de facto, indicar algum descontentamento que atinge eleitores que habitualmente votam PSD, o que deverá levar a que as mudanças propostas por Jardim sejam mais rápidas do que aquilo que o próprio líder estaria a prever. Neste momento, o PSD sente uma ameaça nova, diferente de todas aquelas que já enfrentou porque não utiliza os canais e instrumentos convencionais e tem um discurso muito mais agressivo, muitas vezes semelhante ao da própria maioria. Terá de ser capaz de percebê-lo e encontrar respostas que não se devem ficar por meras operações cosméticas, devendo antes traduzir novos compromissos e mudanças efectivas nas áreas política e económica. Poderá ainda ter de enfrentar um desafio inesperado: para sobreviver, BE e PCP virarão baterias para o PND, mas poderão igualmente endurecer o discurso contra o Governo, procurando de alguma forma seguir as “pisadas de Coelho”.
- Os tradicionais partidos da oposição correm o sério risco de serem “engolidos por um Coelho”. Desde logo o BE e o PCP, mas também o PS. Nunca, em mais de 30 anos de democracia, a esquerda conseguiu congregar tantos votos quantos o candidato apoiado pelo PND . Os socialistas tentarão, como é óbvio, estabelecer “pontes” com o Partido da Nova Democracia, algo que oficiosamente alguns adversários da actual direcção socialista já faziam, mas o grande problema é de legitimidade, ou seja, Jacinto Serrão “ganhou” um partido dividido, provocou rupturas em vez de entendimentos à entrada, não podendo por isso esperar colher grande solidariedade das diversas facções. Não sei até que ponto terá o PS tempo e energia para evitar mais uma catástrofe eleitoral. Quanto ao PCP e ao BE a luta é dramática, pois está em risco a própria sobrevivência dos dois partidos. Se por um lado o PCP tem uma base de apoio que embora pequena poderá ser um conforto numa situação de crise extrema, o BE delapidou, nos últimos anos, a sua pequena falange e dificilmente sobreviverá nas próximas regionais. Deverá endurecer o discurso, tal como o PS e o PCP (que já o fez nas presidenciais, virando baterias, com muito poucos resultados, para Coelho), cercando de alguma forma o PND, mas terá pela frente um ano muito duro. Para já, o BE começou mal, dizendo que a votação no candidato presidencial do PND devia-se simplesmente ao facto de ele ser madeirense…
- Já o “partido de Coelho” tem um desafio que também não será fácil: as expectativas estão mais altas do que nunca e, muitas vezes, chegar ao topo não é difícil, a maior dificuldade consiste em manter-se. Estará no centro do debate político o que, para uma estrutura pequena, pode ter efeitos nefastos. Deverá ser alvo da oposição, que o encarava como “dor de cabeça para o PSD” e que agora o começa a encarar como “enxaqueca” para ela própria. É óbvio que o PND não terá, nas “regionais”, o número de votos que teve Coelho nas presidenciais. É claro que não é, nem nunca será, um projecto de poder. Mas pode fazer mossa e ser parte importante no novo cenário político regional que agora se parece começar a desenhar. Para isso, terá de entender cabalmente o seu papel.

8.1.11

Os clubes e a política

Os clubes desportivos da Madeira são financiados pelo erário público para cumprirem uma função desportiva e promocional e por aí se devem ficar, não se imiscuindo noutros terrenos. Em primeiro lugar porque os estatutos o proíbem. Em segundo lugar por são entidades abrangentes, que concentram em si gente dos mais diversos credos políti...cos e religiosos unida por uma causa comum que está aquém da política ou da religião, sendo que o apoio institucional a uma causa política ou religiosa causa divisões que poderão, a médio prazo, ser fatais para as próprias instituições desportivas. Em terceiro lugar, no caso concreto da Madeira, porque dão armas - por razões que não carecem de explicação - a quem defende o fim dos apoios directos da Região ao futebol profissional. Urge, de facto, separar as águas.