28.2.05

O Sr. Cinema

Pelos vistos, Martin Scorcese voltou a perder. Nada que não se esperasse já que, rezam as críticas, o “Aviador” não sendo um mau filme, não é, nem de perto nem de longe, uma obra-prima.

O melhor de Scorcese já tem anos. “Taxi Driver”, de 1976 - se calhar, o meu filme favorito –, é um tributo ao cinema. “Touro Enraivecido”, filmado em 1980 é muito bom. O segmento “Life Lessons”, no genial Histórias de Nova York (um “tríptico” de homenagem à verdadeira capital do mundo ocidental), de 1989, é simplesmente delicioso, de longe o melhor do filme.

O começo da saga do “Padrinho” marcou, se calhar, o auge da carreira do realizador nova-iorquino. Quanto aos mais recentes, “Casino” e “Kundun” não são particularmente inspirados ou inspiradores. “Gangs of New York”, de 2002, ficou aquém das expectativas.

Apesar de tudo, Scorcese já merecia um Oscar. Pelo que fez em prol do cinema. E vai ganhá-lo. “One of these days”...

Se La Palice fosse vivo e jogasse no F.C. Porto diria que quando há vencidos também há vencedores. E este ano, Clint Eastwood voltou a vencer. Francamente, ainda não vi o Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos, por isso não posso opinar sobre o filme ou sobre a justiça da atribuição do prémio.

Mas, em verdade vos digo, Eastwood deve ser, neste momento, o maior cineasta americano em actividade – que me perdoem os incondicionais de Linch, Tarantino, ou outros.

A diversidade da sua obra enquanto realizador, e enquanto actor, é notável. Desde “Per un pugno di dollari”, filme de 1964, dirigido por Sérgio Leone, que o tornou conhecido, passaram quarenta anos.

Eastwood foi cowboy, agente secreto, guarda-costas. Foi herói e poucas vezes vilão. Foi um fotógrafo apaixonado nas “Pontes de Madison County”, excelente filme.

Mas em 1992, com “Unforgiven”, subiu ao patamar dos eleitos. O filme valeu-lhe o primeiro Oscar da carreira - melhor Realizador mas, curiosamente, não lhe deu a estatueta para melhor actor, perdida para Tom Hanks. “Unforgiven” ganhou ainda o prémio do Melhor Filme.

Andou pelo espaço em “Space Cowboy”, de 2000. Em 2002 voltou a ser polícia, em “Blood Work”. Realizou o genial “Mystic River” em 2003 (só perdeu para a trilogia do “Senhor dos Anéis”, mas deu a Sean Penn a estatueta de melhor actor).

Agora, transformou-se em agente de uma pugilista profissional. Passaram muitos anos desde que em 1971 Eastwood se estreou como realizador, com “Play Misty for Me”. Passaram muitos anos e hoje Clint Eastwood é, de facto, o “Senhor cinema”. Americano, pelo menos... O segundo Oscar “individual” que recebe confirma-o.

Já agora, o cinema espanhol também está de parabéns. Esta madrugada, Alejandro Amenábar foi premiado com o Oscar para o melhor filme estrangeiro, com Mar Adentro. A película conta a história verídica de Ramón Sampedro, homem que lutou, durante 30 anos, pelo direito a morrer.

Amenábar é o quinto realizador espanhol a vencer um Oscar. O primeiro foi Buñuel, com “O Charme Discreto da Burguesia”, de 1972. Seguiram-se José Luis Garcí, com “Volver a Empezar”, de 1982, Fernando Trueba, em 1993, com o genial “Belle Èpoque”, e o inevitável Almodovar, em 1999, com “Tudo Sobre Mi Madre”. Três Oscares em pouco mais de 10 anos provam a vitalidade, e a crescente aceitação, do cinema espanhol.

Refira-se ainda que Amenábar é o 10 espanhol a receber o mais ambicionado galardão do cinema. Almodovar já venceu dois (junta o de melhor filme estrangeiro ao de melhor argumento, com “Hable com Ella”, de 2002). Gil Parrondo também ganhou dois, que premiaram a direcção artística. Néstor Almendros ganhou pela melhor fotografia, em 1978.

Gonçalo Nuno Santos

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo plenamente no que diz respeito ao Eastwood. Mesmo sem ter visto o 'Million Dollar Baby' arrisco dizer que mereceu o Oscar... Fico à espera da estreia aqui...

Anónimo disse...

É caso para dizer. Viva o marketing e a máquina de Hollywood.
Felizmente o cinema não começa em Hollywood, nem acaba neste mediático "conclave" de pseudo-cinéfilos.

O cinema é muito mais do que os Óscares. É, por exemplo, o Fantasporto, Canne, Veneza,Berlim, só para referir os mais conhecidos palcos de exibição de "outro" cinena.

Existe um princípio, muito simples, para quem estuda os média, mas fantástico, que diz quase tudo sobre os Óscares. É qualquer coisa do género: - "se for notícia aconteceu. Se não for, então é que não aconteceu:" É mais ou menos o que se passa com o resto do cinema. Como não é notícia, é como se não existisse.

No entanto, estou a ver um "Custonica". Nunca ganhou nada em Hollywood; um Abas Kiarostami, (irão), Godar, Romer,(França) e tantos, tantos outros.

Quanto a David Linch,já agora Connanberg e outros grandes realizadores.Só posso dizer uma coisa. São ícones do cinema. Não precisam de Wollywood para nada. Quem conhece os seus trabalho, sabe o que valem, independentemente de já terem, ou não, ganho um Óscar