16.6.05

Descarril(h)amentos

O Sr. Carrilho anda ligeiramente ofendido com aquilo que a comunicação social, e nomeadamente o jornal Público, lhe anda a fazer. Percebe-se a revolta. Percebe-se o narcisismo. Carrilho quer transformar a sua campanha numa reunião de família, onde só entram as coisas boas, que é como quem diz as coisas giras que ele tem para mostrar. Fez por isso um vídeo singelo onde mostra a sua bela mulher, o filho e até, dizem, a sua irmã (desconheço se declamou algum poema). E fez disso um grande alarido: convocou a comunicação social, convocou notáveis, convocou até o primeiro-ministro e o inesgotável Coelho. O vídeo não provocou boa digestão em algumas pessoas e o próprio Carrilho devia saber que a utilização deste tipo de imagens-propaganda pode ser uma faca de dois gumes (para não dizer de dois legumes, como o Jaime Pacheco). Alguns jornalistas atacaram-no comparando o dito vídeo ao do “menino guerreiro”, que tanta celeuma levantou por alturas de uma outra campanha eleitoral. Tudo muito certo e tudo muito natural. Há uns tempos atrás Carrilho agrediu um fotógrafo que tentava captar imagens do seu rebento à porta de sua casa. Há uns tempos atrás ainda Carrilho vendeu o exclusivo do seu casamento às revistas do coração, publicações aliás, que muito gostam de o promover como homem sério, de família, intelectual e muito chique. Frequentemente o Sr. Carrilho e a sua família (não incluir a irmã), são capa de revista e motivo de comentário. Apenas um conselho para o Sr. Carrilho: quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele. É por isso errado comparar esta situação a outras situações como Carrilho (o homem deve ter explodido de raiva com a comparação com o “menino guerreiro”!!!) faz no seu artigo de hoje no Público (disponível apenas para assinantes).
Pode-se naturalmente mostrar a família. Pode-se até mostrar a casa, a cama, o escritório onde se trabalha ou os pratos onde se come. Pode-se inclusivamente mostrar a bela mulher (que rende muitos votos, de certeza absoluta) e o petiz (a dizer papá ou qualquer coisa do género). Mas coisa completamente diferente é encenar tudo isto disfarçado de normalidade como se fosse um qualquer folhetim de propaganda rasca ou de revista cor-de-rosa (aliás palco habitual do casalinho, como já foi referido).
Carrilho, também conhecido por Jack Lang português (nunca percebi muito bem porquê), devia por isso ter mais juízo e saber, que chatice, que não há assim tantos parvos e que há gente, outra chatice, que não pensa como ele. É um problema de forma. E também de conteúdo.