23.2.06

A realidade existe

O Comité Central do PCP, de acordo com uma notícia saída ontem no Público, entende que no caso das caricaturas de Maomé o que está em causa “não é a liberdade de imprensa e de expressão, mas acções provocatórias de carácter racista e xenófobo que insultando e identificando o islão com o terrorismo procuram atiçar a tensão, alimentar e explorar acções radicais que possam servir de pretexto para o prosseguimento da estratégia de agressão e guerra imperialista contra países soberanos e a criminalização das forças e povos que lhe resistem”. Mas como delirar não paga imposto e a asneira (liberdade de expressão) é livre, o Comité Central vê ainda “motivações” e uma “ofensiva mais geral do grande capital e do imperialismo”, interessado em propagar e em semear o ódio e a violência. A táctica não é nova. Aliás, está putrefacta de tanto ser utilizada. Daqui a pouco, o camarada Jerónimo dirá que o Presidente americano, himself, é o autor moral dos desenhos porque está interessado no petróleo e na instabilidade na região e que foi ele próprio que financiou o concurso. Pelo meio, os sionistas também entrarão em cena com uma série de métodos pouco ortodoxos e tenebrosos. No fim, surgirá como complemento a globalização predadora. O camarada Jerónimo, como se vê, é mais um caso perdido. Com o fim do comunismo (prática política), o discurso marxista (teoria) virou-se para o cinismo e para a má-fé, numa clara acção de desespero demonstrativa da sua impotência política. No seu discurso seráfico, e saudosista, o Camarada Jerónimo não vê que lá fora a realidade existe.