19.2.06

Vivas ao país dos matraquilhos!

Definitivamente cada vez mais me convenço que vivemos num país de matraquilhos. O jornalista do Público que fez a investigação ao caso Eurominas e desencadeou a Comissão Parlamentar fez hoje, de novo, revelações que implicam directamente o ex-ministro António Vitorino no caso. Enquanto ministro, porque como advogado já estava provado que o seu escritório foi responsável pela defesa da empresa canadiana. Ora, temos um ministro que inicia o processo de restituir a uma empresa uns terrenos que tinham sido “emprestados” pelo Estado, enquanto a fábrica laborasse por estas bandas. Isto depois de um antigo Primeiro-Ministro ter decidido, de acordo com a legislação, que os terrenos eram públicos e que não havia direito a qualquer indemnização. Atropela uma antiga decisão do Governo Português e decide salvar a empresa da falência, propondo o pagamento de uns meros milhões por parte da EDP que cometeu o “crime” de cortar a energia eléctrica à empresa, por falta de pagamento da facturinha mensal. Como se não bastasse, vai que também decide resolver o processo fora dos tribunais, alegando interesse nacional (a razão evocada prendia-se com a ínfima possibilidade do Estado ser condenado ao pagamento da indemnização). Como em Portugal a justiça anda a passo de caracol, passam-se uns aninhos e o senhor sai do Governo, voltando, por um período fugaz, à sua actividade de advogado. Por mera coincidência, a empresa em litígio com o Estado, contrata os préstimos do escritório do “D. Sebastião” socialista, para a representar nesse mesmo diferendo. O Dr. António Vitorino não fica com o processo, logo não há qualquer problema. E o Estado paga uma pipa de massa e a empresa fica contente e o antigo Secretário de Estado que tinha negociado com a empresa como governante e que (pasme-se) também era sócio do escritório de advocacia que negoceia com o Estado em nome da empresa, fica satisfeito e o Dr. António Vitorino fica satisfeito. Todos ficam satisfeitos! Passam-se uns anos, tudo isto torna-se público e a classe política, na generalidade, fica calada. Mas como a indignação de uns poucos é um bocadito para o grande, cria-se uma comissão de inquérito, omite-se as incongruências das explicações, aparecem como virgens ofendidas uns senhores que teriam muito que explicar, chega-se à conclusão que não se pode provar nenhuma ilegalidade, manda-se às malvas a ética e ficam as coisas assim. E não há nenhuma revolta e o povo não exige decência e o Presidente da República não diz nada e a vida continua. E é provável que o Dr. Vitorino ainda volte a ocupar uma cadeirinha, bem remunerada, no Estado e os portugueses, amestradinhos como estão e como bons matraquilhos que são, uma vez mais, comem e calam. E é este o quotidiano nacional. E é no meio desta indecência que temos que viver.

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