9.3.06

Repita lá, Dr. Serrão!?

Eu ainda não percebi qual é o mérito político que se pode reconhecer a Jacinto Serrão.
O homem, de cada vez que faz uma intervenção política profere idiotices sem tamanho, as suas opiniões não têm qualquer sustentação, não passam, enfim, de lugares-comuns que até se podem admitir ao Sr. Manuel, que é taxista, mas que não são dignas do líder do maior partido da oposição madeirense.

Então não é que agora o homem “descobriu” que a relação de Jorge Sampaio com os sucessivos governos foi marcada pelo bom relacionamento institucional (DN-Madeira). Desculpe, repita lá! Bom relacionamento institucional? Disso não tenho dúvidas, se falarmos na relação entre o Dr. Sampaio e o Eng. Guterres, ou entre o (já - felizmente) ex-presidente e o Eng. Sócrates. Mas dizer que a relação de Sampaio com os governos PSD foi marcada pelo bom relacionamento demonstra uma cegueira atroz na interpretação política. Esta relação foi sempre muito tumultuosa e por vezes com conflitos abertos (apesar de na maior parte das vezes terem sido muito discretos). E diga-se de passagem que determinados episódios só não foram mais graves devido ao bom-senso por parte dos líderes do PSD. Basta lembrarmo-nos dos episódios com Durão Barroso, com a crise do Iraque. Sampaio admitiu mesmo que teria demitido o Governo (curiosamente aceitara, anos antes, a participação portuguesa noutros conflitos, também sem o aval da ONU), caso este insistisse no envio de tropas para o Iraque. Tinha legitimidade para tal? Claro que sim. O que não se percebe lá muito bem é que isto se tenham passado pouco tempo depois da demissão do anterior PM, por considerar que Portugal estava mergulhado num lodaçal. Como é que Sampaio contribuiu para a serenidade? Com ameaças. “Ganda” relacionamento institucional, sim senhor!

Por outro lado, na tomada de posse de Santana, alertou logo que estaria atento ao Governo. Ou seja, deixou a espada de Dâmocles pender sobre a (já) bastante frágil cabeça de Santana Lopes. Das duas uma: ou o homem não aceitava a solução proposta pela maioria, ou então não tinha nada que andar a dizer que iria estar atento às medidas tomadas no âmbito da política externa, economia e justiça. Tivesse ficado calado, porque a um presidente não compete proferir ameaças. A ele compete fazer cumprir a Constituição. Mas naquele momento, todos os portugueses souberam que o “bebé” do Santana estaria condenado antes de chegar à segunda infância. Depois, ainda diz que soube interpretar o desejo dos portugueses, o que abriu um precedente terrível: sempre que um governo estiver com sondagens desfavoráveis corre o risco de ser demitido. Sim, porque convenhamos que a demissão daquele governo não se deveu à incompetência do então PM (que o era, de facto). Se assim fosse, a primeira medida a ser tomada por Cavaco Silva seria demitir o montanhês do Sócrates (ó homem, tome um acto digno, uma vez na vida e beba sicuta, como o seu homónimo!). Não! A demissão deveu-se a contingências políticas muito especiais. O Governo estava a ser atacado por tudo o que mexia, o Eng. Sócrates, com aquele seu ar de constante virgem ofendida, estava bem colocado nas sondagens, não se vislumbrava a retoma económica. Tudo factores que, obviamente, demonstravam que o PS ganharia as eleições.

A demissão deveu-se a trapalhadas? Ora, e então as mentiras claras não merecem igual castigo?
Não meu caro Dr. Serrão: a presidência de Sampaio não foi marcada pelo bom relacionamento institucional. Estes 10 anos foram marcados por atitudes titubeantes do Sr. presidente, que em caso de dúvida apoiava os seus camaradas de partido. Fez-me lembrar aqueles árbitros (como o de ontem, no jogo Liverpool-Benfica) que decidem sempre a favor do mesmo. Na hora de decidir, o cartão rosa sempre falou mais alto.


PS – A cereja no topo do bolo foi a reencaminhamento de Vítor Constâncio para o cargo de Presidente do Banco de Portugal. O carrasco dos governos PSD, exactamente por o ter sido, é mantido no cargo pelo Sr. Presidente da República, pouco tempo antes de ser substituído e já com um novo Presidente eleito. Estou curioso para ver o que dirá a história destes dois mandatos. Por enquanto, resta manifestar a minha indignação e mágoa por ter vivido numa época em que um Presidente da República quis mais ser presidente dos socialistas do que de todos os portugueses.

2 comentários:

Anónimo disse...

Porque cargas de água cada vez que se fala do presidente, afirma-se de boca cheia que se trata do presidente de TODOS os portugueses, quando tal não é verdade. Nem toda a gente votou nele!
Em segundo lugar,Santana Lopes estava condenado ao fracasso desde a nascença é certo, mas vítima!Poupem-me! Para além de ser um demagogo, ineficaz e ineficiente, o que de facto importa nisto tudo é que não foi eleito pela maioria! Pelo povo! Aceitou a responsabilidade como afirmou, porque era um grande tacho, nem sequer teve de ser eleito para o efeito. E quer gostem ou não, a população não estava satisfeita com este "arranjinho" laranja!
Não tive pena nenhuma quando o vi cair. Acho que Sampaio fez muito bem! Durão barroso abandonou o país com a tanga na mão e deixou no seu lugar um bon vivant sem capacidades evidentes para governar um país em crise. Não é apenas uma questão de côr partidária, é bom senso. Eu teria feito exactamente o mesmo!
E se mais rosa não há, uma coisa vós digo, foi um sinal de inteligência! Afinal Sampaio não é tão parvo como os intelectuais da praça sempre afirmaram.
Beijos,

Marisa Frade.

Anónimo disse...

Marisa,
obrigado por ter partilhado a sua opinião.
As minhas críticas não se prendem com o conteúdo, mas com a forma e o modo. E neste contexto,nada do que a Marisa afirma contradiz a minha opinião!
Beijos,

Sancho Gomes