4.5.06

The Constant Gardner

Ainda não tinha visto “O Fiel Jardineiro”. Vi ontem. É um filme absolutamente fantástico que fez com que o nó que persiste na garganta sempre que penso em África, aumentasse ao ponto de quase me asfixiar.

Não entro em discussões estéticas cinéfilas, sobre as técnicas elipsistas (perdoem-me o neologismo), a “sujidade” da imagem ou os benefícios da câmara ao ombro, pois apesar de gostar muito de cinema, não sou grande especialista.

O que me comoveu foi a sensação gritante – que, de resto, acompanhou-me ao longo de todo o filme – que a história poderia perfeitamente ser verídica. O que me revoltou foi saber que existem muitas empresas farmacêuticas que se aproveitam da miséria daquela gente para testar drogas. O que me indignou é que somos – todos, sem excepção! – coniventes com a barbaridade cometida pelos chefes tribais e senhores da guerra, que se auto-denominam de classe política, que por meia dúzia de dólares vendem o povo à voracidade de multinacionais menos escrupulosas. O que me chocou foi a confirmação de que um africano vale infinitamente menos do que eu e que consequentemente é dispensável. O que me enojou foi a comprovação (silly me!) que empresas farmacêuticas e outras que tais, recebem milhões em benesses fiscais, ao abrigos das leis do mecenato, para enviarem para África produtos com validades ultrapassadas.
Afinal, as pessoas africanas não são bem pessoas, são assim como uns elos perdidos e que, portanto, a sua pobreza é normal. Afinal, ainda são sociedades tribais, não é?
O problema de África é o de ainda existirem demasiados africanos que clamam pela nossa ajuda. São ainda demasiadas bocas que gritam. Portanto, se diminuírem, não faz mal!


Há uns tempos, o Bruno Macedo escreveu aqui um post, de que resto, concordo na generalidade, sobre África e os regimes militares, autoritários, corruptos e criminosos que grassam por aquele continente. Disse que este era o seu maior problema (não tive tempo para pesquisar, portanto é possível que as afirmações não estejam precisas). É verdade. Como também é verdade que apaziguamos a nossa consciência enviando para lá meia dúzia de patacas e uns saquinhos de arroz e chamamos-lhe de ajuda. Não tenho qualquer trauma colonialista. Mas sinceramente acho que podemos e devemos fazer algo por aquele continente. Acredito piamente que alguma coisa de boa aconteceria se apenas olhássemos as pessoas que lá vivem de outra forma. Se todos nós, que vivemos num continente civilizado, reivindicássemos que os nossos governos e as nossas empresas agissem lá, como exigimos que ajam cá.

7 comentários:

Woman Once a Bird disse...

Concordo em pleno com o post.
Não sei se foi o teu caso, mas eu fui vê-lo ao cinema e saí de lá com um nó na garganta, com aquelas imagens gigantescas a povoar-me a mente. Também não percebo nada de estética do cinema, mas tive a sensação que só o olhar de quem conhece um amniente de favela poderia filmar aquilo daquela forma. Soberbo, mesmo. O filme.
E sim, senti que pode ter acontecido, pode estar a acontecer e pior voltar a...
Ninguém que decida se importa verdadeiramente.

Kisses

Woman Once a Bird disse...

Quanto a exigirmos por cá... achas realmente que temos exigido alguma coisa? E que temos conseguido alguma coisa (nos últimos tempos)?

Sancho Gomes disse...

WOAB,

pelo menos sabemos que empresas menos escrupulosas não fazem por cá o que fazem por outras bandas. Repara que a própria CIA tortura prisioneiros noutros países, com lei menos rigorosas.
Mas acho que essencialmente TEMOS que olhar para África de uma outra forma. É a questão de um novo humanismo (ou do humanismo do outro?!;o)

Beijos

Anónimo disse...

Sinto o mesmo nó na garganta ao ver gajos que deram desfalques na casa da madeira de coimbra armados em puritanos e a apoiar regimes que de democráticos só têm o nome.

Anónimo disse...

Esta é mesmo para ti sancho, lembras-te?

Woman Once a Bird disse...

Meu caro, desfalques na Casa da Madeira? Que me lembre, recordo que muitos trabalhavam para outros receberem os louros. Não terá sido o teu caso (o segundo, é claro)?

Sancho Gomes disse...

Mais uma vez, cá vêm alguns energúmenos lançarem suspeitas sob a cabardia do anonimato. Mas estejam à vontade, porque como já uma vez disse, serve-vos de terapia e a mim diverte-me.

PS: WOAB, não tenhas dúvidas que serão alguns césarzitos que adoram louros ou lourinhos.