2.5.06

Pergunta (II)

O que dirá a esquerda anti-imperialista-admiradora-do-índio-que-chegou-a-presidente (nunca percebi porque é que não gostavam do Walesa), agora que sabemos que os militares bolivianos irão tomar posse dos campos ora privatizados?

Não sei responder, mas arriscaria prognosticar que a boa da esquerda culta e intelectual europeia irá justificar estas evoluções com a necessidade da Bolívia proteger os seus recursos naturais das sôfregas garras da rapina nortenha. Aliás, como já o tinha feito com o ditador Chàvez!

11 comentários:

Anónimo disse...

Pergunta (III)
O que é feito do Bruno?

Pergunta (IV)
Será que fechou o pio outra vez porque o bento escreveu sobre o óbvio?

Anónimo disse...

Interessante consideração. Sim o Chavez pode ser ditador mas é legitimado, tal como o ditador Bush e o ditador Jardim. Admiro-o pela postura anti-imperialista e pelo braço de ferro aos EUA.

Anónimo disse...

Ditador Chavez? Até gosto de ler parte do que escreves, Sancho, mas esta é de bradar aos céus. Ele é ditador porque acabou com a anarquia fiscal da Venezuela? Porque, imagine-se, obrigou os nossos emigrantes a pagar impostos? Porque deu voz, médicos e educação aos pobres dos cerros? Pode ser meio bronco, ter comportamentos questionáveis, mas é legitimado pelo voto de todos (!) os venezuelanos. Algo que o senhor Bush não pode dizer, uma vez que foi eleito presidente numas eleições em que ficou em segundo lugar e fruto de uma fraude comprovada.
Quanto ao Evo Morales, só foi eleito porque a América Latina está a dizer "basta!" aos ditadores, aos corruptos e ao saque dos países do 1º mundo (desta vez são europeus). Se não fosse o tratamento de inferioridade que é dado a estes países pelos "ocidentais", não haveria Chávez, nem Morales, nem Lula, porque os sistemas democráticos iriam funcionar e eleger líderes mais moderados. Por outro lado, é muito difícil perceber a legitimidade de contratos de exploração de hidrocarbonetos em que 80% (nem em Timor...) da produção vai para as empresas estrangeiras.
Um abraço

Jorge F. Sousa

Sancho Gomes disse...

Olá Jorge, bons ventos te tragam.

Eu trato-o por ditador porque manipula a seu gosto a oposição antagonizando-a constantemente com argumentos populistas, porque controla absolutamente todas as instituições venezuelanas com poder para o questionar (lembra-te quando alterou a Constituição, eliminando o Senado e reduzindo o número de Câmaras com as quais deveria negociar). Chamo-o de ditador porque colocou no Supremo Tribunal apenas gente da sua confiança, porque controla o Conselho Eleitoral Nacional, porque controla as Forças Armadas (licitamente) e corpos militares um bocadito mais estranhos, como aquele urbano, composto por reservistas. Chamo-o de ditador pelo discurso anti-partidário, mas apologista de fanatismos.

Terá feito alguma coisa boa? Com certeza, mas porra até o Salazar o fez!

Há um estudo interessante feito por Javier Corrales, do Amherst College (podes ler aqui http://foreignpolicy.com), que demonstra inequivocamente o que acabo de afirmar.

Em relação à tua afirmação de que começam a aparecer demasiados líderes de esquerda na América Latina (digo de esquerda porque colocas no mesmo saco o Chavez, o Morales e o Lula, a ainda assim acho que o brasileiro é diferente), lembrar-te-ia que esta é a sequência lógica das Teologias da Libertação e dos movimentos guerrelheiros de meados do século passado. A doutrinização está agora a dar os seus frutos.

Concordo contigo quando afirmas que não se pode desligar o facto de haver meia dúzia de empresas dos países mais desenvolvidos que sugam todos os seus recursos naturais, dos movimentos mais radicais que proliferam nas “Américas”. Mas acho que essa é uma visão demasiado redutora. É óbvio que o discurso populista tem aqui mais chão para crescer. No entanto, para mim, o principal problema foram os regimes, corruptos e criminosos, alguns autocráticos, outros não, que rapinaram o povo e que beneficiaram pessoalmente com esses acordos. E não vejo como é que a nacionalização que está em curso na Bolívia poderá mudar alguma coisa, visto que esta medida irá fechar a economia boliviana sobre si mesma. Digo-te mais, não me parece nada legítimo que empresas que investem milhões sejam assim roubadas aos seus legítimos accionistas. Porque havia a alternativa negocial. E temo que esta medida apenas sirva para encher mais uns bolsos, enquanto o povo morre sonhando com Zorros e Ches, ao som do Hasta Siempre.

Um abraço.

Woman Once a Bird disse...

"(:::) manipula a seu gosto a oposição antagonizando-a constantemente com argumentos populistas, porque controla absolutamente todas as instituições (...) com poder para o questionar (...). (...). Chamo-o de ditador pelo discurso anti-partidário, mas apologista de fanatismos."

Este texto poderia referir-se a outros que desprezam Zorros ou Ches e que abominam o Hasta Siempre. Que recorrem ao insulto e à demagogia barata para conquistar votos. Tens razão, obra também Salazar a fez... Mas e tudo o resto?

Sancho Gomes disse...

WOAB:

Concedido! O texto refere-se a quem se encaixar neste quadro. Aliás, o Javier Corrales denomina-o de novo paradigma de ditadura.

Xau!

Anónimo disse...

Olá, outra vez

Antes de mais, um abraço aí para o Alentejo.

A questão dos ditadores que sugaram tudo tem mais culpados e alguns deles estão em Washington e na Europa. Como sou um pouco mais velho, lembro-me da ditadura de Anastácio Somoza, na Nicarágua - matou jornalistas em directo e espezinhou todo um país -, do nojento Pinochet (que nunca mais lerpa), da ditadura abjecta da Argentina e do regime dos coronéis do Brasil. Todos, repito, todos, tiveram como apoiantes incondicionais o governo dos EUA e as multinacionais do petróleo e da mão de obra escrava. Quando caíram os regimes, a ajuda que Washington deu foi pagar a grupos de assassinos a que chamava "contras". Perante isso, é perfeitamente normal que a reacção de um povo seja a contrária e valorize os "Ches" que lhes dão, pelo menos, a ilusão de serem pessoas.
E já agora, o Che está muito acima de teóricos pseudo-politólogos que tecem as suas teorias sentados a fumar um charuto (havano de certeza), como deve ser o caso de Javier Corrales.

Jorge F. Sousa

Nota: como sou estreante nesta coisa dos blogs (sou um verdadeiro analfabeto), não sei se posso dar respostas deste tamanho, desculpa

Sancho Gomes disse...

Jorge,
estás à vontade para fazer os comentários do tamanha que quiseres.

Um abraço do Alentejo.

Anónimo disse...

Jorge, e o Che não foi um contra do outro lado? lá pelos lados da áfrica subsaariana ninguém morre de amores pelo Che... será porque os locais analfabetos foram em conversas de politólogos!?...

Sancho Gomes disse...

Jorge, apenas mais duas notas. É possível que o Corrales até fume uns havanos (afinal quem é que não gosta?). Mas não desprezes a sua capacidade intelectual, porque o homem "sabe" pensar.

2º Eu subcresvo que afirmas em relação aos ditadores latinos. E isso não está em contradição com o que afirmei anteriormente.

Fica bem!

Anónimo disse...

Jorge,

já agora, o que é que achas da mais nova pérola democrática do Chavez, que agora quer fazer um referendo para auscultar a população sobre a possibilidade de ficar como presidente até 2032 (ou até morrer)?

Sancho Gomes