1.9.06

Um mito

Em Londres, por falar em delírios, sobe ao palco a partir da próxima semana uma curiosa ópera que pretende elevar o senhor Khadafi e a sua obra à categoria de mito, realçando a sua obra e a sua acção política. Caros leitores mais cépticos, lamento informar, mas o que acabaram de ler em cima não é, infelizmente, gralha ou erro de informação. E trata-se mesmo do Sr. Khadafi. Lamentavelmente, a estupidez humana nunca teve fim nem limite. Mas convém recordar aos mais esquecidos, aos muitos ignorantes que grassam por aí e que teimam em fazer, por exemplo, de Fidel, Guevara, Lénine ou mesmo Chávez uma espécie de heróis românticos a quem tudo se perdoa, que o actual ditador da Líbia não é flor que se cheire nem pessoa que se convide para ir jantar. Aliás, o Sr. Khadafi foi um dos percursores e mentores dos ataques terroristas a aviões cujo exemplo mortal, e perfeito, é o do voo 103 da Pan Am que caiu em Lockerbie, na Escócia, em 1988, matando todas as 270 pessoas que seguiam a bordo. Fazer deste assassino, um déspota em potência que conduz um país à base da força, um mito, imortalizá-lo numa ópera defendendo a sua obra, é não mostrar nenhum vergonha ou qualquer respeito ou pudor pelas suas vítimas.
O problema desta Europa que se diz civilizada, é querer branquear este tipo de gente em nome de uma utopia que ruiu com o muro mas que ideologicamente continua bem viva na cultura, na comunicação social e na educação dos nossos tristes e patéticos países. A falta de memória, ou o esquecimento ou desconhecimento da nossa história é meio caminho andado para um novo desastre. Mas claro que, entretanto “the show must go on”. Agora com o Sr. Khadafi como artista principal.