31.12.06

As aulas bilingues

O Dr. Louçã, um anjo imaculado, prepara-se para apresentar no Parlamento uma proposta que pretende introduzir nas escolas portuguesas o ensino bilingue (não importa a língua) para os filhos dos imigrantes. A coisa vem no Expresso (uma comédia à parte na tragicomédia que é este país) e não deixa de ser perturbadora. O Dr. Louçã, como toda a gente sabe, é conhecido por ser um comediante cáustico com uma propensão natural para explorar o drama alheio enquanto gesticula e fala com ar de pessoa bastante entendida nos assuntos que aborda. O Nuno Rogeiro, por exemplo, também é muito parecido, embora ligeiramente melhor no comentário sobre a máquina de guerra norte-americana e os seus efeitos sobre ditadores indefesos.
Mas o Dr. Louçã não é particularmente sério (já vos tinha dito que é um comediante?) e até entre a sua horda há já alguns que começam a contestar a sua inócua e interminável liderança, há demasiado tempo afundada numa espécie de limbo sabático, ao qual o efeito do excesso de haxixe não deve ser estranho. Eu confesso que prefiro o Carlos Malato às homilias do Dr. Louçã, mas como gostos não se discutem o que importa aqui é a proposta que demonstra bem a originalidade e a simplicidade desta gente. E a proposta é um verdadeiro delírio que, a ser aprovada, promoveria exactamente o contrário do que pretende combater: a dita exclusão dos imigrantes, porque toda a gente sabe que só dominando a língua é possível uma verdadeira integração no país de acolhimento.
Os guetos sociais não se combatem mantendo os excluídos numa redoma que tenha por objectivo recriar as suas especificidades e ambientes naturais, venham eles de onde vierem. Já um velho ditado dizia que em Roma sê romano. Só para a tribo do Dr. Louçã é que isto parece complicado de entender. Mas pode ser que haja esperança. Quem sabe falando uma outra língua?