Este caso do Notícias da Madeira é um bom exemplo da hipocrisia que muitas vezes reina na sociedade madeirense. Antes do fecho, o Notícias era mais recordado pelo dono do que propriamente pela sua primeira página, o que digamos não deixa de ser um curioso dilema. Agora, de repente, o corpo de jornalistas do Notícias era o melhor do mundo e este projecto constituía-se como uma verdadeira lufada de ar fresco no panorama jornalístico regional. Pelo menos, no dizer de muita gente indignada pelo seu fecho e que, desconfio eu, nunca comprou o jornal. Devo dizer que compreendo as preocupações corporativas. E que compreendo, acima de tudo o resto, o drama das pessoas que vão perder o seu emprego e que demonstraram sempre muito brio pela sua actividade em condições nem sempre ideais. Mas sejamos sinceros: nesta sociedade pouco instruída, a verdade é que pouca gente compra jornais (incluindo muitos daqueles que agora se indignam e que passam a vida a pedir os jornais emprestados nos cafés). E ainda menos gente lê, de facto, jornais ou qualquer outra coisa para além da legendagem de um filme de série B com o Van Damme. Se não há leitores, muito dificilmente haverá publicidade. Sem publicidade, não há receita. Sem receita, não se compensa a despesa. São regras muito simples.
Confesso que o Notícias não fazia parte das minhas leituras habituais. E, muito sinceramente, não via ali nada de transcendental que justificasse uma mudança minha e dos meus hábitos de leitura. Talvez houvesse alguns jornalistas interessantes, com algumas peças interessantes (nomeadamente na revista), mas pouco mais do que isso. Mas isso é culpa minha porque tenho de confessar também que sou um leitor pouco atento à realidade regional, apostando mais na Net (blogues e jornais), nos jornais nacionais de referência em papel e nas revistas especializadas que me chegam a casa pelo correio. Num tempo global, com a internet, a rede das redes, a concorrência pela nossa atenção é maior. E a verdade é que, e isso custa-nos reconhecer e aceitar, nesta terra não há assim tantas notícias quanto isso. Pelo menos, que eu dê por elas. E pelo menos, quando vivemos num mundo pejado delas.