Estepilha. Confesso que é a minha expressão madeirense favorita. Talvez por ter sido frequentemente mimoseado com ela depois de jogos de futebol entre os vasos com azáleas da minha avó. A embalagem de óleo Fula que muitas vezes substituia a bola fazia estragos inacreditáveis à luz do entendimento da Srª. Maria, a mais velha empregada doméstica do mundo, que desde o inicío dos tempos trabalhou naquela casa do Caminho de Santo António.
Estepilha, gritava a Srª. Maria ao ver o chão de calhau roliço coberto pelo arco-irís das flores de azálea. Estepilha... E eu ainda hoje rio quando oiço o adjectivo.
Estepilha é sinónimo de estouvado, reguilha. Qualifica essêncialmente quem practica actos de alguma forma inocentes, e por isso inconsequentes. Actos que fogem da norma e que são, na maior parte dos casos, divertidos.
Muitas vezes, no meio da paródia, um estepilha acaba por fazer pensar quem sente, ou vê, as suas "aventuras".
No meu caso, os vasos com azáleas foram ligeiramente afastados, propocionando uma área maior para o meu estádio privado.
Lembrei-me da expressão a propósito da personagem Manuel da Bexiga, criada pelo PND. Confesso que no inicio achei alguma graça à criatura e à caricatura. Era um estepilha. Brincava com a política e com os políticos. Era inconsequente e medianamente divertido, como devem ser todas as caricaturas.
Depois, com o evoluir da campanha, o Manuel da Bexiga foi-se desgastando. E acabou, como era previsível, engolido pela fúria de protagonismo de que necessita a candidatura da Nova Democracia.
Levado pela onda, a criatura tornou-se ofensiva. Vil. Idiota demonstração de desprezo pelo povo que supostamente quer embalar.
E em vez de contribuir para o debate, ou para que haja debate, com humor - e eu também acho que o humor é a melhor arma para mudar o mundo -, criou condições (provavelmente de forma propositada) para trazer à superficie a pior face da política, traduzida em reacções como aquela que se viu ontem em São Martinho.
De facto, de estepilha, a personagem transfomou-se em estafermo, sem graça e sem qualquer tipo de utilidade.
Estou em crer que o actor que incorpora a caricatura ainda não percebeu que está a ser lamentavelmente (mal)utilizado por aqueles que o deitarão no lixo depois das eleições.