4.7.07

Em festa

Portugal recebeu embevecido, e de braços abertos, a presidência da União. O acontecimento meteu uns rapazes à volta do primeiro-ministro, uns concertos onde não cabia toda a gente e umas conferências de imprensa, em que também participou o Dr. Barroso, um ex-conhecido nosso. Para os próximos seis meses, a agenda antecipa recital de fino recorte sob a batuta do nosso primeiro que esperamos nós não precise de falar em inglês técnico.

Claro está que os próximos seis meses serão para esquecer. O próprio Eng. (?) Sócrates já veio avisar que quer (exige? deseja?) um esforço colectivo para que o país deixe uma imagem positiva junto dos outros líderes europeus (é expressamente proibido manifestar-se contra o governo ou colar cartazes com piadas sobre ministrospor exemplo). Suponho eu, no fundo, que o ideal seria que os portugueses momentaneamente deixassem de existir (talvez metendo férias por seis meses) varrendo-se, assim, e de uma assentada, a chatice que são os nossos problemas colectivos da agenda mediática.

Entretanto, a principal função da nossa grandiosa presidência é fazer aprovar uma constituição disfarçada de tratado. A tarefa foi já assumida pelos gémeos portugueses, Dupond e Dupont, perdão, Sócrates e Barroso, o que implicará que o futuro tratado fique conhecido por Tratado de Lisboa. (Sonoridades à parte, Tratado de Lisboa soa bem melhor que Tratado de Liubliana, com a vantagem evidente da maioria dos portugueses saber onde fica Lisboa e quase ninguém saber o que é ou onde fica Liubliana.)

Em auxílio da presidência portuguesa, o Dr. Cavaco, outrora um não resignado, fez saber que acha o referendo nacional (uma promessa eleitoral) ao futuro tratado um empecilho sem fundamento. Fica claro que também para o Dr. Cavaco, os portugueses são uma maçada que se trata ignorando, como os actuais níveis educacionais, aliás, recomendam. Na verdade, perante o gritante estado de ataraxia vigente, viver na ignorância é aconselhável e um sinal enorme de felicidade. E garante, por acréscimo, uma exemplar sobrevivência. Para quê fazer perguntas incómodas, quando a resposta a dar só pode ser uma?