Os compromissos do cristianismo contemporâneo acumulam muitas sobrevivências históricas: a velha tentação teocrática do domínio das consciências pelo Estado; o conservadorismo social que liga o destino da fé a regimes utltrapassados; a dura lógica do dinheiro, que guia o que deveria servir. (...)
Quem quiser manter os valores cristãos em todo o seu vigor deve organizar, para todo os lados, a ruptura do cristianismo com as desordens estabelecidas. (...)
O Cristianismo já não está sozinho. Realidades maciças e valores incontestáveis nascem aparentemente fora do seu âmbito, suscitam morais, heroísmos, quase santidades.
Por outro lado, parece que o cristianismo ainda não realizou com o mundo moderno (desenvolvimento da consciência, da razão, da ciência, da técnica e das massas trabalhadoras) a união conseguida com o mundo medieval. Estará a atingir o fim? Não será este divórcio prova evidente? Um estudo mais desenvolvido destes factos leva-nos, no entanto, a pensar que esta crise não é o fim do cristianismo mas o fim duma cristandade, dum corrompido regime do mundo cristão que rompe suas amarras e parte à deriva deixando atrás de si os pioneiros de uma nova cristandade. Parece-nos que, depois de durante séculos ter talvez roçado a tentação judaica da instalação directa do Reino de Deus no plano dos poderes terrestres, o cristinanismo regressa lentamente à sua posição primitiva (...)."
"Toda a gama de comportamentos que a fenomenologia religiosa liberta, reencontram-se em quadros novos, sob formas geralmente degradadas, muito retrógadas em relação ao cristianismo, exactamente na medida em que o universo pessoal e suas exigências são mais ou menos eliminados."
Emmanuel Mounier, in Personalismo
Munch, Golgotha
1 comentário:
eu gostei muito deste excerto.
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