4.7.07

Que é como quem diz: separar o trigo do joio.

"Quando falámos da realidade religiosa concreta, distinguimos a sua dimensão de eternidade, seus amálgamas com formas temporais caducas e os compromissos para que os homens a arrastam. O espírito religioso não consiste em cobrir tudo isto com apologias, mas, muito antes, em libertar o autêntico do inautêntico, o permanente do caduco. Aqui se encontra com o espírito do personalismo.
Os compromissos do cristianismo contemporâneo acumulam muitas sobrevivências históricas: a velha tentação teocrática do domínio das consciências pelo Estado; o conservadorismo social que liga o destino da fé a regimes utltrapassados; a dura lógica do dinheiro, que guia o que deveria servir. (...)
Quem quiser manter os valores cristãos em todo o seu vigor deve organizar, para todo os lados, a ruptura do cristianismo com as desordens estabelecidas. (...)
O Cristianismo já não está sozinho. Realidades maciças e valores incontestáveis nascem aparentemente fora do seu âmbito, suscitam morais, heroísmos, quase santidades.
Por outro lado, parece que o cristianismo ainda não realizou com o mundo moderno (desenvolvimento da consciência, da razão, da ciência, da técnica e das massas trabalhadoras) a união conseguida com o mundo medieval. Estará a atingir o fim? Não será este divórcio prova evidente? Um estudo mais desenvolvido destes factos leva-nos, no entanto, a pensar que esta crise não é o fim do cristianismo mas o fim duma cristandade, dum corrompido regime do mundo cristão que rompe suas amarras e parte à deriva deixando atrás de si os pioneiros de uma nova cristandade. Parece-nos que, depois de durante séculos ter talvez roçado a tentação judaica da instalação directa do Reino de Deus no plano dos poderes terrestres, o cristinanismo regressa lentamente à sua posição primitiva (...)."

"Toda a gama de comportamentos que a fenomenologia religiosa liberta, reencontram-se em quadros novos, sob formas geralmente degradadas, muito retrógadas em relação ao cristianismo, exactamente na medida em que o universo pessoal e suas exigências são mais ou menos eliminados."

Emmanuel Mounier, in Personalismo

Munch, Golgotha

1 comentário:

Anónimo disse...

eu gostei muito deste excerto.